Sonhei que tinha outra filha. Era uma menina gordinha, de cerca de um ano. Não a vi no sonho. Só sabia que a tinha. Sabia que era fofa e saudável, uma filha adotiva, e que renovava tudo dentro de mim.
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Lembro de pensar no sonho “oh não, minha filhas estão crescendo!”, e em seguida sentir “que bom que tenho minha filha pequenininha”. Não lembro do nome dela.
Os filhos começam a crescer, começam a dormir na casa dos amigos, começam a falar em intercâmbio e fazer faculdade em outra cidade. Se aproxima o ninho vazio. Sempre se aproxima o ninho vazio, os pais é que não notam. Se aproxima desde o primeiro dia, o dia do parto, desde o primeiro dia de gestação, desde a noite apaixonada da concepção. O ninho vazio começa a se construir ali.
O coração do pai é um orfanato ao contrário. Se no orfanato estão crianças sem pais, onde ficam os pais sem crianças? Existe um nome para designar crianças sem pais, os órfãos. Me pergunto qual o nome para designar o indivíduo adulto, sem crianças.

Um engraçadinho sem filhos gritará “pessoa feliz”, mas eu discordo. Lembro do meu coração consolado em saber que tinha uma menina pequena de novo comigo. Me defendo da acusação de “carente” explicando que sei o sentido das coisas. Sei que minhas filhas crescerão, incentivo-as a sair de casa, a ganhar o mundo.
Às vezes, incentivo-as até um pouco demais. “Quer que eu vá embora, pai?”, me perguntam elas. “Não, minha filha. Quero que tu crie asas, mas pode se aninhar o quanto quiser”.
Como Valter Hugo Mãe escreve, um pai sem filhos sente “que tudo lhe faltava pela metade, como se tivesse apenas metade dos olhos, metade do peito e metade das pernas, metade da casa e dos talheres, metade dos dias, metade das palavras para se explicar às pessoas”.
Ouvi esses dias que a gente já nasce com um filho, porque depois que um filho vai embora você não consegue mais lembrar da sua vida sem ele. Vejo minhas filhas crescerem. Não sei se terei mais filhas.
Um pai que prepara seu ninho vazio, é feliz de ver filhos voarem, mas suspira de saudade.
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