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Fico aqui pensando no crescimento das crianças, no desenvolvimento baseado em fermento, que faz todos grandes, enormes, em um piscar de olhos. Esse pensamento se torna recorrente quando pego Vicente para trocar as fraldas e vejo como é pequeno meu menino caçula, como é lindo em ser pequeno. “Quem sabe?” penso, em átimo de segundo, […]

Fico aqui pensando no crescimento das crianças, no desenvolvimento baseado em fermento, que faz todos grandes, enormes, em um piscar de olhos.

Esse pensamento se torna recorrente quando pego Vicente para trocar as fraldas e vejo como é pequeno meu menino caçula, como é lindo em ser pequeno. “Quem sabe?” penso, em átimo de segundo, “se não seria lindo tê-lo assim para sempre”, a profundeza dos olhos escuros de meu filho que encanta e faz sorrir ao menor encarar.

Já pensou que maravilha seria, ter para sempre pequenino o menino, um pedaço de fofura tão grande? Só que, no mesmo segundo, lembro das experiências tão fascinantes ao lado de todos os outros filhos, cada qual em seu tempo certo, cada qual com suas coisas e assuntos.

Como foi bom, por exemplo, explicar para íris sobre os dinossauros, que dominaram a terra e simplesmente sumiram, apanhados pela ira sem raivas de um meteorito devastador.

Ou explicar para Letícia sobre as distâncias do mundo, sobre os caminhos que o pai precisava fazer para vê-la, na ponte aérea longuíssima entre Belém e Florianópolis. Ou estar ao lado do Carlos, quando da morte de seu avô paterno, ele, tão forte, fazendo-se fortaleza para ajudar a mãe tão sentida. Ou caminhar com Maria pelas ruas de Paris, mostrando a ela o mundo e sendo cuidado pela menina que apoiava seu pai, após uma frustrada aventura em patins de gelo.

Lembro que, certa vez, viajando pelos interiores do Pará, visitei uma aldeia indígena e trouxe para Carlos, de lembrança, um arco e flecha legítimos.  Lembro dos olhos escuros brilhando diante do presente, e lembro que aquele olhar de olhos negros também é bom, igual o olhar doce de Vicente – e então descubro, mais uma vez, que cada coisa tem sua dose de ser coisa boa.

Que filho pequeno, bolinha escondida atrás de bochechas enormes, é bom, mas também é bom filho grande que pede aula de revolução Cubana, e que entende as distâncias do mundo, que fica curioso com dinossauros e com coisa dos índios.

Por fim, lembro que, em certa noite calorenta de Belém, Maria já era grande e veio ao meu colo. Ela se aninhou toda nos meus braços, mas era tão grande que quase não coube mais. Meia menina para fora do colo.

Percebendo aquilo, que o tempo é trem veloz, que deixa saudades, ela perguntou:

– Pai, como vai ser quando eu não couber mais no seu colo?

Respondi que a vida era assim, que a gente nasce, cresce e morre, e no meio disso tudo existe um bando de coisas bacanas e que a gente devia aproveitar o momento. Talvez reflexiva pela resposta, Maria prosseguiu nas perguntas:

– Pai, o que tem depois da morte?

– Existem diversas crenças, filha. Uns dizem que vamos para o céu ou inferno, outros, que renascemos como outra criança. Tem até quem diga que podemos voltar como formigas.

Ela então me pediu:

– Papai, se tiver outra vida, posso ser sua filha de novo?

E nos abraçamos muito forte. Disse que sim, que ela sempre seria minha filha, várias e várias vezes, mesmo não sendo Deus e não tendo qualquer certeza sobre nada dessa vida e morte.

E, até hoje, me emociono com a declaração de amor mais bela que já recebi.

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