8 minutos de leitura

Muito se fala a respeito da autoridade que os pais precisam manter para educar bem seus filhos. Foca-se na questão de manter a autoridade, e, consequentemente, se algo parece ser assim tão importante, logo surge o medo de perder a tal autoridade. Acredito que há apenas um conceito um tanto distorcido daquilo que realmente é […]

Muito se fala a respeito da autoridade que os pais precisam manter para educar bem seus filhos. Foca-se na questão de manter a autoridade, e, consequentemente, se algo parece ser assim tão importante, logo surge o medo de perder a tal autoridade. Acredito que há apenas um conceito um tanto distorcido daquilo que realmente é importante e indispensável.

É fato que pais, cuidadores e educadores, precisam ser respeitados pelas crianças, sejam elas seus filhos ou que apenas estejam sob seus cuidados. Uma das primeiras coisas que penso quando falo sobre respeito é que respeitar implica ouvir. Pais, mães, cuidadores, educadores, ou seja: os adultos, precisam e querem ser ouvidos pelas crianças. Precisam e querem ser ouvidos quanto as regras que existem para tornar a vida segura e funcional. E as crianças, por sua vez, precisam ser orientadas sobre regras, sobre segurança e educação.

As crianças precisam saber a importância de ouvir aquilo que os adultos falam. Porém, se nos limitamos a pensar que uma boa educação e uma postura colaborativa só podem ser conseguidas através da obediência, nos equivocamos.

Sobre obediência cega, e seus efeitos a médio e longo prazo, dá para escrever outro texto, que ficará para uma outra oportunidade. Por ora me basta dizer que a obediência não deve ser almejada como o símbolo máximo do nosso sucesso como pais ou educadores.

Conseguir com que as crianças sejam participativas, colaborativas e pró ativas representa muito mais sobre o tipo de educação que estamos transmitindo, e sobre o suposto sucesso nesta empreitada, do que exibirmos crianças bem adestradas e absolutamente obedientes.

A questão é que geralmente não se consegue muita coisa com autoritarismo. E me apresso em dizer que também não se consegue nada positivo com a permissividade. Podemos encontrar o equilíbrio entre autoritarismo e permissividade, pois essas duas posturas são apenas extremos, onde resultados positivos não se solidificam. Por isso, sempre que vejo tanta preocupação acerca do posicionamento dos pais, penso que deveríamos estar refletindo menos sobre autoritarismo e mais sobre liderança.

Sobre autoridade e liderança na relação com os filhos - papodepai.com

Podemos tentar refletir mais sobre como podemos ser líderes dentro do nosso núcleo familiar. E se falarmos em liderança, o conceito sobre respeito retorna com nova roupagem. Pois, como dito acima, respeitar implica ouvir.

É preciso lembrar que as crianças aprendem muito mais pelo exemplo do que pelo discurso. Nós sempre queremos aprender como falar e ordenar, e muitas vezes esquecemos da importância de aprender a ouvir e acolher. Isso me lembra Rubem Alves, quando dizia que conhecia muitos cursos de oratória, mas nunca tinha visto nenhum de “escutatória”. Se desejamos ser ouvidos, devemos antes aprender a ouvir.

O verdadeiro líder não manda, o verdadeiro líder INSPIRA!  

 

Um líder não espera que sigam suas ordens, ou que sigam palavras vazias. O verdadeiro líder é o primeiro a agir e a inspirar com exemplos vivos. O verdadeiro líder está sempre pronto para ouvir, para dialogar, para acolher quem o procura ou precisa de sua orientação experiente.

Eu considero importante que as crianças saibam que existe alguém no controle. Na verdade, eu acredito que as crianças precisam disso. Porém, o que eu sempre oriento, é que os adultos devem tentar estar no controle das situações e não gastar tempo e energia tentando controlar somente as crianças e seus comportamentos.

As crianças precisam ser orientadas, precisam saber que há alguém no controle da situação, que há alguém que está atento ao que acontece, e que as está observando. Saber disso transmite tranquilidade e segurança para as crianças. Elas não podem tomar decisões conscientes sobre si mesmas, elas ainda não têm maturidade para isso, e precisam que alguém as ajude a compreender o que devem fazer para estarem seguras, para que a dinâmica da casa e da família funcione e para que representem bem seu papel social.

Crianças podem questionar e relutar, fazem isso porque são crianças, é isso que se espera delas, faz parte do aprendizado. Porém, mais do que conter e anular esses comportamentos, nós, adultos, precisamos ajudar as crianças a compreenderem que algumas decisões devem ser tomadas por nós, e isso é o que se espera dos adultos. Conseguir isso sem usar de violência, autoritarismo ou agressividade, é o grande lance no exercício da maternidade e paternidade.

As crianças podem e devem ser ouvidas quanto ao que desejam e sentem. Seus desejos e sentimentos podem e devem ser levados em consideração pelos adultos, sem que isso represente “fraqueza” por parte dos pais.

Dicas e sugestões para que Pais e Mães sejam rígidos, firmes e que ignorem de propósito os filhos pequenos durante uma crise, existe aos montes. E quando os próprios pais, intimamente, se sentem desconfortáveis em agir assim, se veem acuados pelos mais diversos especialistas, que sugerem até mesmo o uso da violência e da agressividade como forma de educação.

Acho cruel e desnecessário passar para os pais a ideia de que, se levarem os sentimentos das crianças em consideração, irão perder a sua tão valiosa autoridade ou estarão sendo “coração mole”, fracos, que estarão sendo submissos aos próprios filhos. E novamente quero deixar claro que isso não tem nada a ver com permissividade.

Educar com carinho, com respeito, não é dizer “sim” para tudo, é dizer “sim” sempre que possível.

 

Quando sentem que são ouvidas, que são levadas em consideração, as crianças passam a CONFIAR nos adultos, e se tornam naturalmente colaborativas.  Sendo assim, mesmo quando algo é negado em algum momento, com a devida ajuda para lidarem com a frustração, as crianças vão aprendendo a acatar o que lhes dizem com mais tranquilidade.

Quando o foco está em apenas manter uma suposta autoridade rígida e inflexível, desviamos energias fundamentais para a construção de uma verdadeira relação de confiança e respeito entre nós e as crianças.

Se pensarmos em liderança, podemos aprender a sermos Pais e Mães (ou cuidadores) cujo olhar interessado, preocupado, respeitoso e cheio de amor é o bastante para atrair a atenção das nossas crianças. Podemos aprender a sermos líderes, cujos gestos falem por si mesmos, cujas palavras não sejam apenas de ordens, mas que carreguem consigo o acolhimento e a reflexão. Podemos aprender a ser seres humanos seguros, tão gentis, alegres e verdadeiros, que todos, inclusive nossos filhos, terão orgulho de ouvir, seguir, colaborar.

Quando conseguirmos entender a diferença entre mandar e INSPIRAR, aí talvez nem seja mais necessário nos preocuparmos tanto com autoridade, pois seremos, em essência, verdadeiros líderes, respeitados e amados por nossos filhos.

Eu sei que, quando pais ficam preocupados em perder a autoridade, estão, na verdade, receosos sobre não conseguirem transmitir valores para os filhos, estão preocupados em desempenhar adequadamente esta missão tão difícil que é educar um ser humano em pleno desenvolvimento físico, mental e emocional. Sob o pretexto de ajudar a manter a autoridade, surgem muitas sugestões que indicam o caminho da intransigência, da falta de flexibilidade e da rigidez excessiva.

Essas sugestões apenas afastam pais e filhos, criando um abismo emocional entre eles.  Posturas rígidas e autoritárias representam apenas um dos extremos (autoritarismo X permissividade), e podem até conseguir a obediência através do medo, porém, desta maneira, o respeito que se consegue através da inspiração, acaba se perdendo na relação mais importante que a criança precisa desenvolver.

Sobre autoridade e liderança na relação com os filhos - papodepai.com

Autoridade funciona bem quando conseguimos aplicá-la voltada para nós mesmos, e não quando tentamos impor a outras pessoas.  A essência do ser humano tende, naturalmente, a rechaçar a autoridade imposta. O ser humano tende a não sentir respeito por quem impera através do medo e da coação.

Para saber se isso é verdade ou não, apenas pense em figuras autoritárias que marcaram sua vida, pode ser um professor, um chefe, ou até mesmo um colega de trabalho. Pense em como se sente, ou o quê pensa, sobre alguém que nunca se deteve por um momento para saber como você estava, que não se importava em conhecer suas dificuldades, ou mesmo oferecer uma palavra de incentivo, e que dedicava todo o tempo a apenas ditar regras, ordens e normas.

Pense e responda sinceramente se esta pessoa lhe inspira coisas positivas?

 

Geralmente quando lembramos de uma figura que nos inspirou em algum momento da vida, o que mais nos chama a atenção e fica marcado, é a maneira de falar, são os modos respeitosos, o tom de voz, a postura gentil, a generosidade ao oferecer ajuda, o olhar interessado, a escuta verdadeira, o interesse autêntico sobre nossa pessoa.

Se tivermos a diferença entre autoritarismo e liderança de forma clara em nossas mentes e em nossos corações, facilmente escolheremos sobre como desejamos ser lembrados por nossos filhos ao longo da vida deles, inclusive depois de termos partido…

[adinserter block=”1″]

Seja o primeiro a comentar!

Deixe um comentário

Nossos Parceiros