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Minha filha mais velha tem hoje 5 anos e desde os seus 4 meses de vida, quando me separei da mãe dela, sou chamado de Paizão. Isso porque ao terminar o relacionamento me vi obrigado a cuidar dela integral e praticamente sozinho nos finais de semana, quando a pegava pra ficar comigo em minha casa. […]

Minha filha mais velha tem hoje 5 anos e desde os seus 4 meses de vida, quando me separei da mãe dela, sou chamado de Paizão. Isso porque ao terminar o relacionamento me vi obrigado a cuidar dela integral e praticamente sozinho nos finais de semana, quando a pegava pra ficar comigo em minha casa.

Me chamam de Paizão porque perdi o sono e minha vida social. Eu ia pras festas dos amigos com a bolsa maternidade carregada com várias roupinhas, chupetas, cobertor, mamadeira, leitinho.  Porque deixava de curtir pra cuidar dela, trocar fralda, dar mamá, me isolava pra fazê-la dormir e ia embora quando muitos ainda estavam chegando.

Dizem que sou um Paizão por tê-la levado inúmeras vezes ao médico (ela entrou na escolinha muito pequena e ao menos uma vez por mês ficava resfriada, normalmente com problemas pulmonares), segurado suas mãozinhas enquanto fazia inalação e chorado mais que ela quando tomou injeção.

Paizão porque sou carinhoso, paciente, preocupado, dou banho, penteio seus cabelos, levo ao banheiro, teatro, parque, shopping. Sei qual é o número dos seus sapatos e se uma roupinha vai servir ou não só de bater o olho.

Paizão porque ainda não recuperei minha vida social, perco festas, baladas e encontros pra ficar com ela.

Paizão porque busco informação, quero fazer tudo cada vez melhor. Porque às vezes me culpo e acho que estou fazendo tudo errado.

Paizão porque decidi largar o emprego estável num banco e trabalhar em casa pra poder passar mais tempo com ela.

Eu confesso que esse título até pouco tempo atrás massageava profundamente meu ego e causava um imenso orgulho. Mas aí um belo dia parei pra analisar a situação e notei que quase todas as Mães que conheço fazem tudo isso e muito mais, sem ganhar qualquer elogio pela façanha. Ao invés disso, muitas vezes, são duramente criticadas por qualquer deslize.

Espera-se que tenham parto normal, optar por cesárea já põe em cheque sua qualidade como Mãe. Não importa se a barriga está maior que uma bola de pilates, causando incômodo, dores, insônia.

O medo de ficar com uma cicatriz traumatizante e todos os outros também devem ser deixados de lado, o bem do bebê precisa ser priorizado, ainda que em detrimento do corpo que o carrega.

Exige-se que amamentem por pelo menos um ano (não querem saber se o bebê está com dentinhos ou o bico dos seios rachado) e voltem ao trabalho – que se largarem terão a responsabilidade questionada – em seis meses, já com o shape de quando solteiras. Mas se estiverem desempregadas e quiserem voltar ao mercado será difícil, ninguém quer contratar uma mulher com um recém-nascido. Eu mesmo já eliminei candidatas a uma vaga em razão disso.

Em suma, para as Mães, fazer o melhor é obrigação, ao passo que pros Pais fazer o básico é bônus.

Então quero pedir que por favor pare de me chamar de Paizão, eu não mereço ser super-valorizado por cumprir bem meu papel. Não estou fazendo nada além da minha obrigação. Ocorre que pra mim, como Pai, as exigências são poucas e a “concorrência” menor ainda.

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