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Quando escrevi meu último texto, aqui publicado e intitulado de “Por que a maior parte dos casos de abuso sexual são cometidos pelos homens?”, sabia que estava propondo mais que um mero questionamento, não só mostrava dados e perspectivas, mas tocava em uma ferida, uma ferida sensível e histórica. Entre elogios, concordâncias e comentários que muito […]

Quando escrevi meu último texto, aqui publicado e intitulado de “Por que a maior parte dos casos de abuso sexual são cometidos pelos homens?”, sabia que estava propondo mais que um mero questionamento, não só mostrava dados e perspectivas, mas tocava em uma ferida, uma ferida sensível e histórica.

Entre elogios, concordâncias e comentários que muito ajudaram a aprofundar o raciocínio sobre a discussão, surgiram também, principalmente no Facebook, algumas objeções, todas muito importantes e que só validam a necessidade de discutirmos esse problema social.

Entre comentários que culpavam as mulheres pela “sexualização” das crianças e teorias da conspiração que pudessem contrapor os dados que apresentei, um aspecto me chamou atenção, relatos em certa medida até pessoais de como os homens são vitimas de abusos e por vezes se quer dão conta, um leitor em específico chegou a dizer “Eu mesmo me relacionei com uma mulher de 40 Quando Eu tinha 15”.

Não sei se o próprio chegou a ler a matéria como um todo, mas seu relato vai ao encontro do ponto principal que foco no texto, a importância da educação sexual como forma de combater os abusos.

Muitos homens não percebem a forma como jovens ainda menores de idade são estimulados a iniciarem sua vida sexual precocemente e com total negligência educacional, isso é sim uma forma de abuso, e se por vezes passa despercebida é por conta da naturalização do machismo. Machismo esse que hora leva homens a violentarem as mulheres, outra os fazem aceitar serem violentados, tudo em nome de um estereótipo socialmente pautado no pré-conceito e na autoafirmação.

Um outro chegou a afirmar “Não creio que seja assim! Acredito que só temos atenção com os homens, por isso, descobrimos! Com as mulheres ninguém tem maldade, daí não dá atenção.”

É triste ter que ressaltar que dados científicos não devem ser ignorados ou que não podem ser refutados com base em mero achismo, mas atentando-nos ao que foi dito no texto, lá afirmo que 97% dos casos de estupro são cometidos por homens, isso não quer dizer que mulheres também não praticam esse tipo de crime, apesar de praticarem com menos incidência.

Tal contraposição poderia ser levada em conta se apontasse, por exemplo a forma como o exame de corpo de delito utilizado para identificar esse tipo de abuso, costuma enfrentar dificuldades já que quando praticado por mulheres as marcas deixadas são mais difíceis de serem detectadas.

Claro que devemos ter atenção com esse tipo de crime que pode sim estar associado a prática feminina, mas infelizmente é prudente não desconfiar na mesma proporção, afinal as mulheres são as maiores vitimas desse crime e a prova de que a lógica do estupro é mais presente entre os homens é o fato de 15% dos abusos serem efetuados por homens de forma coletiva.

Apesar de descordar, compreendo a resistência de alguns homens em encarar tal cenário, e relaciono isso a dor da desconstrução, esse termo muito em voga atualmente quase sempre vem acompanhado de muitas acusações e de raras explicações que poção não só apontar o dedo para nós homens, mas explicar porque é importante reavaliarmos nossa conduta e considerar a desconstrução/ressignificação de alguns comportamentos em nossas vidas.

O termo DESCONSTRUÇÃO facilmente é associado a total “destruição” do que hoje entendemos como ser homem, mas precisamos pensar que essa desconstrução quando bem intencionada não é focada na figura masculina, mas sim no machismo propriamente dito e que majoritariamente parte de nos homens.

Mas por que dói aceitar a desconstrução?

Aceitar a necessidade de desconstruir idéias e comportamentos por si só contradiz a forma como muitos de nós fomos ensinados a pensar, trai o modelo de “homem de palavra” que não volta atrás em suas decisões.  

Tão pouco aceita estar errado ou ser contradito, pois aceitar que erramos é negar e se contrapor a forma como inúmeras gerações de homens antes da nossa foram ensinadas e assim ensinaram a viver, o que para muitos de forma errônea pode representar um questionamento acerca da própria sexualidade.

A desconstrução dói, pois, para vários de nós aceitar estar errado é aceitar ter aprendido a ser homem de maneira incorreta, e acolher mesmo que para se essa realidade é contrapor os exemplos que teve na vida e negar os ensinamentos do pai/avô que muitas vezes transmitem o machismo, achando que ao ensinar a ser machista ensinam a ser homem.

Mas, a cada dia, conservar esse machismo tem deixado de ser uma mera questão de ter acesso ou não a informação, já que ela tem ganhado forças e chegado a todos, passa a ser então uma escolha que separa os que decidem evoluir pelo bem das mulheres e de nos mesmos enquanto homens, ou preservar-se junto ao preconceito e a segregação.

Todo esse feedback em meio a contradições e questionamentos, no fim das contas se mostram muito positivos, afinal enquanto educador não preso somente a ensinar e garantir que as gerações do amanhã sejam menos machistas/preconceituosas do que as atuais, me preocupo também com os homens do hoje, que muitas vezes são pais, pois sei que contribuir com a desconstrução, ou melhor evolução desses, é garantir a saúde de famílias e de uma sociedade como um todo, à medida em que aprendo com eles e evoluo também.

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