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Nós adultos costumamos chamar o período após a infância de “aborrecência”, chamamos assim porque entendemos que, nessa fase da vida, os adolescentes têm atitudes de enfrentamento. Sentem-se cheios de razão,  desconfiam do que os adultos dizem e tem maior vontade de alçar voos mais altos. Me lembro muito bem da minha época de adolescente, foi uma fase […]

Nós adultos costumamos chamar o período após a infância de “aborrecência”, chamamos assim porque entendemos que, nessa fase da vida, os adolescentes têm atitudes de enfrentamento. Sentem-se cheios de razão,  desconfiam do que os adultos dizem e tem maior vontade de alçar voos mais altos.

Me lembro muito bem da minha época de adolescente, foi uma fase de muitas descobertas e muitas mudanças.

Nessa época parece que alguém me deu um óculos novo, com um alcance maior, talvez mais que um binóculo, no qual eu podia enxergar e sentir coisas que em toda minha infância passaram desapercebido, pelo menos no plano da consciência. 

Foi na adolescência que percebi as relações de hierarquia de uma maneira mais clara, e então, as questões sociais ficaram mais evidentes, percebi que eu era de uma “classe social”. Que haviam padrões que eram mais aceitos do que outros, que havia muitos grupos com diferentes gostos, usavam roupas de determinado estilo e falavam de um jeito particular. Claro que eu queria fazer parte daquilo e comecei a seguir esses direcionamentos e buscar minha identidade.

Nessa época, as relações afetivas criaram outra dimensão, comecei a ter interesse pela meninas e falar sobre sexo era algo excitante. A masturbação começa a fazer parte da minha rotina e a conta de água e luz aumenta lá em casa, afinal a hora do banho se tornou um momento especial.

Foi nessa época que tive a primeira relação amorosa e descobri a doce emoção de sentir-se apaixonado, e logo senti o amargo desprazer de ser ignorado. Comecei a tomar decisões sobre isso como se fossem definitivas.

A adolescência foi um momento em que eu queria ter certeza das coisas que eu pensava, eram muitas descobertas, a cada certeza havia uma contradição que me deixava sempre muito confuso, se tornar um adulto começava a se demonstrar algo desafiador.

Foi um momento muito especial e considero que esse período consolidou muitas coisas que duram até hoje. 

Havia muita energia, muito sonho, muita intensidade, altas doses de alegria, doses super altas de dúvidas e, claro, de tristeza.  Poderia até para chamar de uma catarse do corpo, mente, ambiente e cultura.

Hoje aos 38 anos, seria uma verdadeira manifestação de inveja chamar a adolescência de “aborrecência”, inveja de toda a vitalidade e energia para descobrir um novo mundo.  Colocar um novo binóculo, com alcance ainda maior, onde eu possa enxergar tantas coisas que estão aqui embaixo do meu nariz.

Inveja do momento em que eu era tão aberto para receber coisas novas e reagir de maneira tão visceral, com toda a empolgação da época. Viver amores empolgantes e vivenciar sonhos de maneira tão bonita, mesmo quando havia risco evidentes.

Na figura de pai de um filho de 11 anos, que começa a colocar seus pés na adolescência, percebo a minha necessidade de reinvenção como pai. Formas e argumentos que funcionavam, agora precisam ser revistas. Um momento de repensar nas minhas “verdades”, para facilitar o diálogo, estar aberto para uma escuta ainda mais qualificada.

Para entender a diferenças de uma adolescência com youtubers, redes sociais, jogos eletrônicos, inteligência artificial, relacionamentos com tantas possibilidades e muitas coisas tão diferentes “da minha época”.

No senso comum, a idéia de adolescência muitas vezes é vista como uma fase difícil de lidar.  Vejo como um momento muito especial e que tem suas especificidades, como pais é um momento de recarregar as energias com o espírito adolescente e se colocar na posição de ajuda.

Deixar o coração pulsar junto e abraçar com muito amor, para descobrir tantas coisas novas e todos os riscos que a novidade apresenta.

 

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