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A intervenção precoce é um dos pilares para o aprendizado de crianças com sinais de atraso no desenvolvimento.

Por meio dela, profissionais capacitados e a família podem estimular a criança de modo a trabalhar habilidades ainda não adquiridas e evitar que esse atraso se transforme em mais dificuldades ainda no futuro – aproveitando a neuroplasticidade do cérebro infantil para criar esses momentos de aprendizagem.

Quando falamos em autismo, a intervenção precoce por meio das práticas baseadas em evidências é indicada mesmo se ainda há apenas uma suspeita de que aquela criança possa estar no espectro.

Isso porque, estudos mostram que, quanto mais cedo for iniciada, maiores as chances de reduzir comportamentos desafiadores e ajudar no desenvolvimento de curto e longo prazo da criança.

“As crianças certamente podem progredir em idades maiores, mas a taxa de ganho pode ser mais lenta. Quanto mais os atrasos ficam sem solução, maior o risco da criança de desenvolver comportamentos desafiadores para compensar as habilidades de comunicação mais funcionais limitadas (por exemplo, agressão, autolesão, colapsos comportamentais), resultando em um aumento da necessidade de intervenções adicionais”, explica Celine Saulnier, psicóloga clínica com mais de 20 anos de experiência em diagnóstico de TEA e distúrbios do neurodesenvolvimento.

Neste texto, você vai entender quando uma intervenção pode ser considerada precoce, qual a importância das práticas baseadas com evidências no autismo e como escolher a melhor equipe para iniciar as intervenções em crianças com suspeita ou diagnóstico recente de autismo.

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Intervenção precoce e neuroplasticidade no autismo

Quando uma intervenção é considerada precoce?

Foto: Freepik

A idade para que uma intervenção seja considerada precoce varia em alguns países. Nos Estados Unidos, por exemplo, país onde Celine atua, ela é precoce quando a criança tem entre 0 e três anos de idade, mas em alguns estados esta faixa etária pode aumentar até cinco anos.

Já no Brasil, esta intervenção é definida como precoce quando acontece na primeira infância, o que segundo o Ministério da Saúde é de 0 a 6 anos.

No entanto, conforme a especialista em análise do comportamento aplicada ao Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) e agente de cuidado da Genial Care, Lívia Bomfim, profissionais clínicos consideram, também, o que chamam de primeiríssima infância.

“Dentro da definição do que é primeira infância, existe esse primeiro momento, de que vai dos 0 aos 3 anos, em que a neuroplasticidade está no ápice e a estimulação precoce pode trazer resultados mais rápidos”, explica.

Intervenção precoce no autismo 

Foto: Freepik

Seja com diagnóstico ou apenas com a suspeita, a intervenção precoce também é essencial no caso de autismo.

“Numerosos estudos demonstraram que a intervenção precoce está fortemente associada ao resultado ideal. Quando os atrasos de linguagem e/ou desenvolvimento são identificados precocemente, a intervenção para ensinar e promover essas habilidades ajuda a fechar a lacuna nos atrasos”.

“O resultado ideal é diferente para cada criança, mas o objetivo deve ser aumentar a capacidade da criança de ser o mais independente e autossuficiente possível na vida”.

“Fechar lacunas nos atrasos cognitivos, de linguagem e de comportamento adaptativo está associado a uma maior independência na idade adulta”, pontua Celine.

Ela ainda reforça que não é necessário ter um diagnóstico de autismo para iniciar a intervenção.

“Em muitos casos, infelizmente, pode haver longos tempos de espera para obter uma avaliação diagnóstica abrangente. Se um diagnóstico for necessário para serviços de reembolso de seguro, obter qualquer diagnóstico pode ajudar a iniciar pelo menos alguns dos serviços”.

“Por exemplo, às vezes é mais fácil obter uma avaliação de fala para documentar um atraso de linguagem para iniciar serviços de fala (semelhante para avaliações ocupacionais e/ou fisioterapia para atrasos motores finos e grossos, respectivamente)”.

“Isso pelo menos permite que alguma intervenção comece antes que uma intervenção mais abrangente possa ser implementada após o diagnóstico de TEA”, explica.

Apesar disso, ela alerta para o fato de que a intervenção precoce não significa uma “cura” para o autismo.

Uma vez que o TEA não é considerado uma doença, as terapias têm como objetivo abordar comportamentos desafiadores (desregulação comportamental, agressão, automutilação, deficiências do funcionamento executivo, atrasos de comportamento adaptativo etc) e atrasos no desenvolvimento.

Como escolher a melhor equipe para intervenção precoce no autismo 

Por apresentar déficits em várias áreas, pessoas no espectro do autismo precisam de uma equipe multidisciplinar especialista em práticas baseadas em evidências.

São um conjunto de procedimentos para os quais os pesquisadores forneceram um nível aceitável de pesquisa que mostra que a prática produz resultados positivos para crianças, jovens e/ou adultos com TEA.

Nesse caso, podemos dizer que a utilização desses resultados de pesquisas, por exemplo, serve como ferramenta para atingir a evolução com as necessidades do indivíduo. Ou seja, não é um “achismo” – funciona mesmo e é comprovado!

Além disso, é essencial que essa equipe também seja especialista em autismo. Mas a principal característica da intervenção precoce, segundo Celice Saulnier é a individualidade.

“A intervenção também precisa ser individualizada com base nas necessidades específicas da criança para ser mais eficaz, e essas necessidades podem mudar com o tempo”.

“Tende a haver um equívoco de que mais horas de intervenção direta resultam em melhores resultados. No entanto, a qualidade dos serviços é mais importante do que a quantidade”.

“Um estudo mostrou que a intervenção precoce intensiva consiste em ‘até 25 horas/semana’ de serviços, mas isso inclui serviços diretos, serviços educacionais e estratégias implementadas pelos pais”.

Para Celine Saulnier, a presença dos pais também é um ponto-chave no desenvolvimento da criança com autismo 

“Os pais são as figuras mais importantes na vida de uma criança e, como tal, são fundamentais para promover o desenvolvimento de seu filho. Por esse motivo, é imperativo incluí-los no programa de intervenção de seus filhos”.

“Todos os programas de intervenção devem incluir educação dos pais, coaching e treinamento sobre as estratégias, apoios, acomodações e modificações necessárias para promover o desenvolvimento de seus filhos”.

“Os pais não devem sentir que precisam ser um ‘terapeuta’ adicional para seus filhos, mas sim aprender os apoios necessários para aumentar o envolvimento social de seus filhos em contextos diários naturalistas”, conclui.

Conheça a Genial Care

Post originalmente postado no blog da Genial Care

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