Minha primeira filha não foi planejada e demorei um tempo até entender porque minha mulher – minha namorada, na época – ficou tão nervosa quando aquelas duas listrinhas apareceram no teste.
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Eu sempre quis ser pai, uma espécie de substituição inconsciente daquilo que eu não tive quando era criança, e não fiquei nervoso com a notícia.
Afinal, não era meu corpo que iria mudar. Não era minha profissão que iria mudar. Pra ser sincero, mal seria a minha vida que iria mudar – eu teria ainda nove meses de cerveja, amigos e futebol, não é mesmo? Talvez mais, se a Ana tirasse tudo de letra.
Fui me flagrar do que é ser pai no dia do parto. As pessoas tem aquela visão romântica, dizem que é o dia mais maravilhoso da sua vida. Quando o obstetra, amigo da família, disse naquela manhã de domingo: “Vamos fazer a cesária?”, fiquei chocado.
“Com toda essa naturalidade, doutor! Espere aí! Eu não estou preparado!”. Mas a minha mulher estava, depois de nove meses de espera, e dor, e desequilíbrios hormonais. Não achei romântico nem mágico, achei brutal e sangrento. E, de noite, depois que todas as visitas inconvenientes foram embora, minha mulher estava exausta e minha filha chorava.
Chamei a enfermeira, perguntei se ela poderia fazer algo para a criança dormir. E ela riu, e me olhou nos olhos e disse: “Agora é com você”. Ali virei pai.
Para o homem, a descoberta da paternidade vem aos poucos. A gente passa anos pra se acostumar com a ideia. Não fomos treinados, não brincamos de casinha, não ganhamos bonecas. Alguns homens acham que tudo isso é coisa de mulher, mas eu acho que não.
A gente deveria ter treinamento desde pequeno, pra entender a importância de dividir as funções. Talvez, os homens crescessem mais sensíveis, gentis, mais cuidadosos com o sentimento dos outros.
Esses dias eu estava entre bonecas e minha filha pequena. Demos papinha, colocamos uma roupinha quente, passeamos com a boneca de carrinho pela sala. “Um dia eu e você vamos casar, né pai?”.
Respondi: “Papai já casou com a mamãe. Você vai casar com alguém mais legal ainda que o papai”. Alguém que está por aí, em algum lugar. Brincando de bola, de bicicleta, ou de boneca.
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