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Todo ano, na hora de fazer a matrícula do Yuki, eu tenho que preencher um documento e entregar na secretaria: a famosa anamnese para que a escola conheça melhor quem a frequenta. Lá pelas tantas, surge a pergunta: “Qual é o castigo aplicado ao seu filho?”   Minha resposta: “Castigo? Castigo?! Castigo??? Nenhum oras. Yuki […]

Todo ano, na hora de fazer a matrícula do Yuki, eu tenho que preencher um documento e entregar na secretaria: a famosa anamnese para que a escola conheça melhor quem a frequenta.

Lá pelas tantas, surge a pergunta:

“Qual é o castigo aplicado ao seu filho?”

 

Minha resposta: “Castigo? Castigo?! Castigo??? Nenhum oras. Yuki não foi e nunca será castigado por mim ou pelo pai.”

Hoje, entendo a minha relação com meus filhos de uma forma muito diferente. Se eu tiver que usar a minha autoridade como mãe, foi porque falhei naquilo que considero “educação”. A experiência com Hideo e Nara me mostrou que quanto mais eu dependia de castigos para me fazer ouvir por eles, menos influência real eu tinha nas suas vidas.

Perguntei-me N vezes como essa tortura para ambos os lados (porque o castigo é uma experiência sofrida para todos) poderia ser algo positivo lá na frente para nós. Não falta senso comum para explicar essa: dizem que o castigo “deve facilitar à criança o caminho da honradez, da obediência, da aplicação, etc.”, Deus me livre…

Não quero que filho nenhum me obedeça. Não me sinto apta a comandar a minha vida quanto mais a dos meus filhos. Se eles tiverem que me obedecer é porque, de alguma forma, assim penso, eles foram podados ou castrados por mim e devem agir de acordo com os meus interesses. Eu passo ser autoridade se tiver que impor a minha vontade e fujo disso já que abomino qualquer tipo de autoritarismo. Filho meu não “tem que” me respeitar e muito menos me obedecer.

Filho meu não recebe castigo - papodepai.com

Quero que meus filhos tenham luz própria e não sejam sombras de outras pessoas muito menos de mim. Quero que eles sejam eles mesmos, reconheçam as suas vontades e tenham em mim um apoio para conseguir segui-las. As decisões são deles. “Mãe, posso…?” sempre busquei trocar por “Mãe, quero…”. Eu apenas pondero alguma coisa que acho relevante observar, mas as rédeas estão com eles. Quer matar aula, mata. Quer fumar, fuma. Quer fazer teatro, faça. Quer vender arte na praia, venda. Peço, porém, para saber, ao máximo e dentro do possível, tudo o que eles desejam e, assim, um diálogo sempre é desfrutado, não raro, de forma intensa, verdadeira, sem medos.

Yuki outro dia, a despeito de termos conversado, jogou videogame por várias horas seguidas perdendo o controle do tempo que, conforme concluímos em outra conversa, seria bom e saudável para ele. Poderia castigá-lo por ter me “desobedecido”, ou melhor, não seguido nosso acordo. Achei, no entanto, melhor propor um dia sem jogos eletrônicos e ver como a mente dele e o corpo reagiriam. Aproveitei e investi tudo para que ele tivesse a melhor experiência sensorial possível. Ao final, conversamos mais uma vez muito sobre tudo e ele mesmo pediu para que eu avisasse quando ele “esquecesse o tempo” em frente ao computador.

Eu não estou aqui para vigiá-lo. Não quero que ele tenha medo de mim. Quero ser para ele, barco à deriva como todos somos, sempre o seu porto seguro.

 

Esse foi apenas um exemplo. Yuki, como sabem, como toda criança, é uma fonte de aprendizado e ensinamento para qualquer um que converse com ele.

Não consigo me ver castigando minha criança. Vejo meus filhos como seres que precisam ser ajudados como eu mesma peço para que me ajudem a resolver N questões pessoais. Não consigo mais vê-los como seres que precisam ser domesticados.

Filho meu não recebe castigo - papodepai.com

Não podo a asa de ninguém, pelo contrário, aqui eu só encorajo o voo. Não quero que eles andem no trilho, quero que eles percebam sempre que podem ir para qualquer lugar – como um trem descarrilado – com o meu apoio.

Então, eu acho que pelo fato de permitir que eles sigam as suas próprias vontades e de criar um ambiente de condições favoráveis e saudáveis para que isso ocorra, acabo conquistando o tal do respeito sem, contudo, ser autoritária e, muito menos, fazer deles seres obedientes. Penso que o dia que meus filhos se comportarem bem por medo e não por vontade própria eu terei falhado como educadora.

Então, senhores pedagogos, psicólogos, orientadores dessa escola, saiba que filho meu não recebe castigo e, me digam vocês, depois de conviver com Yuki e observar o seu comportamento, se não é hora de rever o sentido dessa pergunta.

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