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A paternidade, em longo prazo, é extremamente gratificante, preenche um vazio existencial, permite que você se sinta eterno, desperta o orgulho de ter formado um cidadão que pode fazer uma diferença positiva no mundo. Mas em curto prazo, no dia a dia, existem pequenas coisas que colocam esse plano maior a prova, nos dando uma […]

A paternidade, em longo prazo, é extremamente gratificante, preenche um vazio existencial, permite que você se sinta eterno, desperta o orgulho de ter formado um cidadão que pode fazer uma diferença positiva no mundo. Mas em curto prazo, no dia a dia, existem pequenas coisas que colocam esse plano maior a prova, nos dando uma vontadinha de desistir. Por exemplo, uma ida ao shopping center com duas filhas.Essa aqui é pra você que está pensando em ter filhos - Papo de Pai

A filha mais velha normalmente está falando, porque é isso o que as mulheres fazem quando estão acordadas – algumas também fazem quando estão dormindo: falam. Ela vai estar falando sobre comprar uma mochila nova, ou pulseiras de zipper, ou qualquer outro apetrecho colorido que você não vai entender muito bem o que é ou pra que serve, e terá nome esquisito como niddles, ou poppies, ou booblebis. A mais nova estará chorando, indignada com a necessidade de sentar em uma cadeirinha para crianças, presa por um cinto de segurança. Você terá muitas vezes vontade de deixá-la sem cinto, sem cadeirinha, e talvez até com a porta meio aberta.

 

Ao finalmente conseguir estacionar a mais velha estará chorando porque você disse que não vai comprar niddles ou poppies ou booblebis e a mais nova estará dando chutes no encosta para cabeça do banco do motorista. Agora você tirou a mais nova da cadeirinha, mas a mais velha se recusa a sair do carro. Depois de alguma conversa a mais velha sairá, mas a mais nova estará chorando agora. Para acalmá-la você permitirá que ela ande na escada rolante 13 vezes, subindo e descendo pela escada do lado, para então, finalmente, poder entrar de fato no shopping.

Dentro do shopping haverá paradas nas lojas de doces, de balões, de sorvete, de celulares, e é claro, nas lojas de brinquedos. Em cada uma das lojas haverá uma compra ou uma conversa longa sobre como não existe a possibilidade de você comprar, por exemplo, um chiclete de 16 reais. Em cada parada você perderá uma filha, porque enquanto uma pára a outra segue tranquila pelo meio da multidão. Ainda que o sentimento de perder uma filha seja desesperador, o sentimento de perder as duas filhas é um pouco revigorante.

 

A loja para a qual você foi até o Shopping não terá o produto que você esperava encontrar, então é hora de pagar o estacionamento. Aqui temos um momento especial na vida do cidadão moderno, momento este que merece um parágrafo só pra ele.

Antigamente os quiosques de pagamento de estacionamento eram localizados na saída do shopping, o que fazia toda lógica do mundo. Então os quiosques passaram para o meio do shopping, imagino que seja pras pessoas ficarem mais tempo circulando, aumentando as chances de você comprar algo ou de perder um filho. Mas agora os quiosques estão nos locais menos prováveis, escondidos, embaralhados, mudando de lugar o tempo todo. Imagino que em breve teremos que perguntar para os seguranças a localização dos quiosques e receberemos uma senha secreta – e subindo ao terceiro andar do shopping encontraremos um senhor de óculos, sobretudo e chapéu que ouvirá a senha e nos dará um pendrive com as coordenadas de latitude e longitude do quiosque para pagamento do estacionamento do shopping. Mas voltemos as minhas… filhas… cadê minhas filhas?!!?!

Essa aqui é pra você que está pensando em ter filhos - Papo de Pai

Ah, estão lá. Você então gritará para suas filhas que virão correndo e esbarrando nas pessoas, todas elas muito civilizadas e considerando você um péssimo pai. Você pagará o estacionamento com a mais nova no colo, a mais velha feliz com seus niddles, tentará entrar no carro com o outro carro colado ao seu, ouvirá os choros de protesto da mais nova na cadeirinha, aguardará a cancela abrir e estará novamente em contato com o ar puro, o sol, os pássaros. Você abrirá o vidro e entrará uma brisa suave. No rádio estará tocando um jazz gostoso, os motoristas darão passagem e o trânsito fluirá com calma, mas constância. Você olhará pelo retrovisor e verá duas lindas crianças felizes, olhando a paisagem.

E, naquele momento, você será a pessoa mais feliz do mundo.

 

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