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Surgido de forma repentina nas páginas do Papo de Pai, achei interessante explicar ao leitor as razões de estar aqui. E, de forma adiantada, explicarei sobre meu vasto curriculum pater. Fui pai muito novo, com 22 anos, e isso mudou minha vida de forma radical. Sem sombra de dúvida, afirmo que tinha uma vida de […]

Surgido de forma repentina nas páginas do Papo de Pai, achei interessante explicar ao leitor as razões de estar aqui. E, de forma adiantada, explicarei sobre meu vasto curriculum pater.

Fui pai muito novo, com 22 anos, e isso mudou minha vida de forma radical. Sem sombra de dúvida, afirmo que tinha uma vida de facilidades e mordomias, coisas que foram muito esquecidas quando Maria nasceu.

Percebi isso pela primeira vez por conta de certa atitude de minha mãe:

Eis-me aqui, ou curriculum pater, por Fernando Sampaio - Papo de Pai

Maria Fernanda devia ter 10 meses, já tinha desmamado e dormiria comigo aquela noite. Acontece que era final de semana, havia uma festa badalada rolando na cidade e eu, igual a todos os jovens, queria muito ir.

Sem raciocinar, pedi à minha mãe que ficasse com Maria aquela noite, pois não queria perder a baladinha, mas minha mãe foi dura.

– Filho, te amo, amo minha neta, mas não vou ficar com ela.

– Como assim? – perguntei de cima da minha altivez ferida.

– Ela é sua filha, sua responsabilidade. Conte comigo para tudo, mas você precisa abdicar de algumas coisas para ser pai.

Eis-me aqui, ou curriculum pater, por Fernando Sampaio - Papo de Pai

Naquele momento muita coisa se descortinou para mim. E daí minha afirmação de que ter Maria na minha vida mudou toda minha visão de mundo. Afinal, se estudei, se trabalhei, se me esforcei da forma como fiz; se deixei de lado coisas em prol de outros objetivos “mais nobres”, certamente foi por causa dela, em uma parceria belíssima.

Quantas vezes, estudando para concurso público, não coloquei Maria no chão, desenhando, e assim ficamos por horas a fio.

Foram muitas as vezes em que ela reclamou das horas dedicadas aos livros e às aulas, momentos em que explicava que também não queria estar ali, estudando, mas fazia aquilo por nós, pelo nosso futuro, para poder viajar e apreciar o mundo ao lado dela.

Eis-me aqui, ou curriculum pater, por Fernando Sampaio - Papo de Pai

E assim foi: aprovado, corremos mundo. Comemoramos os 10 anos dela subindo a Torre Eiffel, em uma Paris ainda iluminada com cores de Natal, tudo para minha filha.

O mesmo objetivo de vida, de sempre tentar ser um homem melhor, um pai presente, se desdobrou em muitos outros amores.

Em 2008 veio Carlos Henrique, filho que vi crescer à distância, mesmo que sempre estivéssemos juntos em pleno amor. Em 2012 veio Letícia, filha lutada, ideia de não desistir jamais de ser pai (e isso é história para muitos outros textos, e prometo que não os deixarei na mão caso haja curiosidade).

Em 2016 e 2019 vieram Íris e Vicente, frutos do meu casamento com Lívia, pessoa maravilhosa que também deve ser personagem de muitos textos, dado o enorme amor que carrega em seu peito.

Eis-me aqui, ou curriculum pater, por Fernando Sampaio - Papo de Pai

E, pronto. Eis meu prometido curriculum pater: pai dedicado de cinco filhos maravilhosos, e assim levo a vida, entre erros e acertos, choros e risos, orgulhos e culpas (estas, sempre minhas, pois é da natureza dos pais sentirem culpa).

Costumo dizer que sou o pai de várias facetas, pois tem de tudo dentro da nossa convivência familiar: tem filha entrando na faculdade e filho aprendendo a andar; tem filho que mora comigo e filho que mora muito, muito longe. Tem menina, que vai lutar contra o machismo estrutural do mundo, e tem menino, que vai tentar se descontruir dessas estruturas.

Já tenho filha namorando, mas também moleque que nem quer saber de meninas. Já tive todos os filhos morando em municípios diferentes. Já tive que viajar para três Estados diferentes para tentar ser o máximo possível presente na vida deles.

Eis-me aqui, ou curriculum pater, por Fernando Sampaio - Papo de Pai

Hoje, percebo que o tempo é sempre bom conselheiro. Vejo que as coisas vão se arrumando, igual placa tectônica que aos poucos vai ajustando seu espaço, mesmo que entremeada de terremotos terríveis (e qual pai não sente tal qual terremoto terrível diante de qualquer acontecimento mais sério na vida do filho?).

Dito isso, passando de forma rápida por todas as fases de filhos e filhas, espero ser capaz de ajudar outros pais a enxergar a maravilha que é a paternidade, paraíso cheio de percalços e durezas, cheio de culpas e questionamentos, mas que, por mais difícil que seja, se revela como único caminho possível diante da criação responsável e amorosa de pequenos seres humanos.

O próximo texto é justamente o que me trouxe aqui, quando fiz observações paternas no Twitter acerca da sexualidade de nossas filhas. É um texto breve, mas que tocou muita gente, principalmente filhas que se sentem absolutamente tolhidas em seus relacionamentos familiares.

Eis-me aqui, ou curriculum pater, por Fernando Sampaio - Papo de Pai

Nos desabafos feitos a mim no Twitter, foi recorrente o uso dos termos “prisão”, “prisioneira”, “infelicidade”, “carrascos”, “carcereiro”, dentre outros igualmente tenebrosos.

Acho que foram tais sentimentos, assim como as reflexões paternas, que também houve, que me trouxeram até essas páginas. A necessidade de falar de forma direta e sincera sobre a criação que damos às nossas crias, sobre os problemas que existem, mesmo que escamoteados.

E nisso espero poder ajudar, com minha bonita experiencia paterna, em caminhar entremeado de sorrisos.

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