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Pode parecer clichê, mas a fatídica afirmação “Quem vê cara não vê coração” descreve bem muitos dos casos de pedofilia presentes no Brasil. Essa frase não fala somente sobre os abusadores que na maioria das vezes convivem diariamente, e até moram com as crianças vítimas de abuso, mas evidencia casos como o da nadadora Joanna Maranhão. […]

Pode parecer clichê, mas a fatídica afirmação “Quem vê cara não vê coração” descreve bem muitos dos casos de pedofilia presentes no Brasil. Essa frase não fala somente sobre os abusadores que na maioria das vezes convivem diariamente, e até moram com as crianças vítimas de abuso, mas evidencia casos como o da nadadora Joanna Maranhão.

Integrada ao esporte desde os 3 anos de idade, Joanna teve sua infância impactada não apenas pela natação mas também pelos abusos que sofreu de um trinador aos 9 anos de idade. Desde então, a atleta carregou esse trauma sozinha durante muito tempo. Após fugir do treinador, anos depois, a nadadora conseguiu se abrir sobre o ocorrido.

Joanna parece ser bem consciente sobre a gravidade da injustiça cometida contra ela, tanto que não só usou seu discurso e poder de fala para ajudar jovens e crianças a se livrarem desse terror. Em 2014, criou a ONG Infância Livre, que auxilia crianças e adolescentes vítimas de violência sexual.

O que chama mais atenção, e acredito ser preciso frisar aqui, é uma de suas falas em específico: “Mais importante do que desmascarar o pedófilo é educar sexualmente as crianças”. É preciso ter uma educação sobre isso, sobre qual carinho pode, qual não pode, o que são certas coisas. É preciso falar disso na escola”.

A fala da atleta denota consciência social e a certeza de que, mais que punir os culpados (e isso sempre deve ser feito), é preciso educar as crianças. A educação sexual não precisa ser vista como uma forma de corromper a inocência infantil, mas sim como a maneira mais eficaz de garantir segurança. Isso quando bem feita, numa parceria sólida entre família e escola.

Ressalto essa parceria, família e escola, porque esse tipo de pauta não deve ficar restrita ao ambiente familiar, tão pouco escolar, ambos os locais representam fortes riscos. Segundo o Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (VIVA/SVS/MS), do Ministério da Saúde, cerca de 68% das agressões ocorrem em casa , tendo o pai (12%), o padrasto (12%) ou outra pessoa conhecida (26%) da criança como abusador.

Sobre a consciência da criança, Joanna ainda relata: “É importante dar liberdade para a criança, para que, se acontecer algum abuso, ela saiba identificar. No meu caso, no momento que ele fez, eu achava que era errado, sabia que era doloroso, mas não sabia o que era.”

Essa fala da atleta, além de triste, demonstra como a ausência de uma educação sexual bem aplicada por pais e professores vulnerabilizam crianças, provocam traumas que poderiam ser evitados por meio da instrução.

O caso da atleta estimulou mudanças na legislação, em 2012 passou a vigorar a Lei “Joanna Maranhão”, que muda as regras de prescrição desses tipos de crime e a contagem do tempo para o crime prescrever. Lembrando que, nesses casos, passa a valer somente a partir do momento em que a vítima faz 18 anos, e não quando o crime foi cometido.

Joanna segue sendo um exemplo não só para crianças mas também para todos os homens e mulheres que, mesmo após atingirem a idade adulta, ainda carregam consigo as marcas do abuso em silêncio. Joanna só conseguiu falar abertamente sobre o ocorrido aos 21 anos de idade. É para que casos como o dela sejam evitados que a educação sexual deve ser vista como uma questão urgente e prioritária na educação brasileira.

Referência: Psicologias do Brasil

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