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Esses dias ouvi minha filha adolescente reclamar que seu celular estava muito lento. “Mas é um milagre!”, disse a ela. “É um milagre!”. Temos, pela primeira vez na história, todo o conhecimento humano no bolso. Todos os filmes, os livros, as óperas, a mitologia grega, todos os discursos inspiradores, toda a Barsa no nosso bolso!

É um milagre! Não importa se demora mais três ou quatro segundos para acessar uma informação. É um milagre! É incrível! É espetacular! Ela me olhou séria. Perguntou o que é Barsa.

Para fazer palestras por todo o Brasil pego aviões. Aviões são estruturas de aço que voam. São maravilhosas estruturas, inexplicáveis, que têm a capacidade de atravessar oceanos. Eu sento em uma poltrona, vejo o nascer do sol por cima das nuvens, a equipe de comissários me oferece um suco.

Ouço o casal da poltrona de trás reclamar. “Isso aqui está cada vez mais apertado!”. Um senhor de terno se queixa, pois acabou o sanduíche de peito de peru. “Agora temos apenas sanduíche de presunto”, lhe avisa a atendente, gentilmente.

Todos os passageiros parecem estar irritados com algo. “Mas é um milagre!”, tenho vontade de gritar. “Você está em um POLTRONA! NO CÉU! TOMANDO SUCO!”, tenho vontade de dizer.

Voltando pra casa de Uber, o pôr do sol estava incrível. Tenho medo de comentar com o motorista, vai que ele acha que eu sou uma dessas figuras zen, um hippie deslumbrado com algo trivial. Mas é um milagre: todo dia uma pintura diferente no céu.

Todo dia um rosa, roxo, um laranja deslumbrante. Não importa como foi seu dia, não importa quão cansativa foi a sua semana. Ali está uma pintura de presente. Você pode reclamar do chefe, do trânsito, da vida. Mas a própria vida é um milagre. É um milagre que ninguém percebe.

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