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— Ahhh, mas vou cortar as suas asinhas rapidinho! Levante a mão quem já ouviu isso! Estou aqui levantando as duas mãos, e penso que a maioria de nós, pais e mães, já ouvimos frases assim durante as nossas infâncias. Mas qual será o impacto dessas palavras? Você já chegou a pensar sobre isso? Eu […]

— Ahhh, mas vou cortar as suas asinhas rapidinho!

Levante a mão quem já ouviu isso! Estou aqui levantando as duas mãos, e penso que a maioria de nós, pais e mães, já ouvimos frases assim durante as nossas infâncias. Mas qual será o impacto dessas palavras? Você já chegou a pensar sobre isso?

Eu comecei a pensar sobre isso quando me dei conta que era justamente esse um dos meus maiores medos enquanto pai: cortar as asas dos meus filhos.

Cortando as asinhas dos nossos filhos, por Thiago Queiroz

Claro, eu provavelmente nunca falaria essas palavras para os meus filhos, mas sabemos muito bem que a maioria das mensagens que passamos para os nossos filhos são, vejam só, não verbais. É através dos gestos, das nossas respostas, que podemos estar cortando as asas dos nossos filhos. Isso acontece um pouquinho a cada vez que dizemos:

— Eu não quero saber o que você quer falar, blá blá blá.

— Não me interessa o que você viu, blá blá blá.

Todas essas são variações da primeira sentença lá em cima, e todas elas levam consigo a mesma mensagem: a de que os nossos filhos, suas opiniões, emoções, sentimentos, pensamentos e desejos não importam. E o que importa então? O que os adultos determinam e sentenciam.

 

Eu mesmo já falei para os meus filhos, quando eu já estava exausto de tanta briga (o que não é tão raro assim de acontecer):

— Eu não quero saber o que você falou e o que ele fez, resolvam isso agora!

Dói o coração só de lembrar, mas é verdade, dizemos coisas horríveis quando estamos cansados e desesperados. Agora, qual é o impacto disso? Como reverter uma situação dessas?

Cortando as asinhas dos nossos filhos, por Thiago Queiroz

Em primeiro lugar, o impacto é bastante claro: a criança percebe que o que ela pensa ou sente não tem valor para seus pais. E, se isso se torna algo frequente na relação entre pai e filho, ela passa a incorporar essa percepção não apenas sobre seus pensamentos e sentimentos, mas sobre si própria.

Ou seja, ela mesma não tem valor para seus pais. Percebe que não vale a pena explicar, argumentar ou dialogar e, por consequência direta, o canal de diálogo é fechado. Não é de se espantar que essas crianças cresçam e tornem-se adolescentes que não contam nada aos seus pais, afinal, a mensagem que eles passaram ao então adolescente sempre foi clara: “você não importa”.

Pense agora, e tente se lembrar como era na sua infância. Pode ser que isso tenha acontecido com você em algum nível, como aconteceu comigo. Mas a chegada dos filhos traz consigo uma oportunidade única de fazer as pazes com o passado e se curar. Não que os nossos filhos farão isso, até porque eles não têm essa responsabilidade, mas a chegada dos filhos faz com que nós queiramos “arrumar a casa”, mesmo que essa casa seja a bagunça interna dos nossos corações.

E, nesse momento, precisamos refletir sobre o que, de fato, “cortar as asinhas” quer dizer. Significa quebrar o espírito de uma criança, moldar à força uma personalidade, arrasar potenciais naturais de uma criança. E, em última instância, botar fogo na ponte que liga você aos seus filhos.

Então, se você me perguntar qual é o meu maior medo em relação aos meus filhos, não tem nada a ver com escola, briga de irmãos, ou coisas do gênero. O meu maior medo é que, mesmo com a melhor das intenções, eu esteja cerceando a liberdade deles de alguma forma. Que eu não consiga enxergar seus verdadeiros potenciais, e “passe por cima” disso, tentando conformá-los naquilo que eu acho que é o melhor para eles.

Difícil ter filhos, né? Sei bem…

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