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Babão, veja se essa descrição lhe diz algo. Seu filho entende tudo o que você diz, mas, ainda que já tenha idade para falar, ele não consegue te responder, não da maneira mais comum. Ele tenta, e você percebe o esforço dele, só que alguma coisa parece não funcionar bem. Você já o levou ao pediatra […]

Babão, veja se essa descrição lhe diz algo. Seu filho entende tudo o que você diz, mas, ainda que já tenha idade para falar, ele não consegue te responder, não da maneira mais comum.

Ele tenta, e você percebe o esforço dele, só que alguma coisa parece não funcionar bem. Você já o levou ao pediatra e ele não encontrou nenhum problema relacionado à musculatura ou aos reflexos. Mas então, o que seu filho tem?

Muitos estudos já apontaram a dificuldade no desenvolvimento da fala, ou mesmo das habilidades de comunicação, como um dos sintomas característicos do autismo. Acontece que não se trata de um diagnóstico fechado, em certos casos, o problema pode estar mais ligado à apraxia do que ao espectro.

Segundo definição da Associação Americana de Fonoaudiologia, Apraxia de Fala na Infância é um “distúrbio neurológico motor da fala em crianças, resultante de um déficit na consistência e precisão dos movimentos necessários ao ato de falar quando o indivíduo não apresenta nenhum déficit neuromuscular (reflexos anormais, tônus alterado etc.)”.

De uma maneira mais geral, podemos dizer que a Apraxia de Fala na Infância é um grave distúrbio motor que afeta a habilidade da criança em produzir e sequencializar os sons da fala da forma que seria comum à sua idade.

A criança com apraxia tem a ideia do que quer comunicar mas seu cérebro falha ao planejar e programar a sequência de movimentos ou gestos motores da mandíbula, dos lábios e da língua para produzir sons e formar sílabas, palavras e frases.

Diagnóstico

Em primeiro lugar, é importante ter em mente que nem toda criança com dificuldade no desenvolvimento da fala tem ou terá apraxia. Esse atraso pode ser causado por vários motivos, inclusive o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Como as diferenças são sutis, o diagnóstico pode acabar sendo confundido.

Se compararmos os sintomas das duas condições, fica mais fácil entender por que a linha entre o autismo e a Apraxia de Fala na Infância é tão tênue. No caso do autismo, uma característica muito comum é o atraso ou dificuldade no desenvolvimento da fala e a dificuldade de iniciar e manter um diálogo.

Já na apraxia, a criança compreende a linguagem, mas tem dificuldade em se expressar corretamente. É como se ela não soubesse o que fazer com a própria boca, pois não consegue planejar os movimentos para que as palavras sejam produzidas e a fala ocorra no tempo e ordem certa.

Nas crianças mais novas, uma outra característica percebida é a fala muito limitada, com pobre repertório de palavras e fala de difícil compreensão. Quanto mais extensa a palavra, maior a dificuldade.

A apraxia pode ser pura, quando é específica e não está associada a uma outra condição mas pode ocorrer associada a outras condições como autismo e síndromes genéticas. Por exemplo, a Síndrome de Down, Síndrome de Prader-Willi, entre outras.

Vale lembrar que uma condição não elimina a outra, crianças com autismo podem ter (ou não) apraxia de fala, e vice-versa. Alguns cientistas acreditam que um distúrbio seja resultante do outro e não que eles apenas coexistam. Apesar disso, os cientistas ainda tem dificuldades em diagnosticar as duas condições quando elas se manifestam em conjunto.

E, justamente, a falta de certezas é um dos fatores que complicam a exatidão do diagnóstico. Mas se você tem dúvidas se o desenvolvimento da fala do seu filho está adequado, não espere para procurar um especialista.

Um fonoaudiólogo que tenha experiência com crianças, desenvolvimento da fala e linguagem, que conheça a Apraxia de Fala na Infância, poderá dar um diagnóstico correto. Se não conhecer nenhum, peça indicação ao pediatra do seu filho. Procure também apoio em grupos de pais, para que vocês possam trocar experiências e informações.

Tratamento

Antes de qualquer coisa, pais e cuidadores devem estar envolvidos no processo terapêutico e ajudar com a continuidade do processo em casa. A terapia fonoaudiológica individual frequente, intensiva e adequadamente planejada, dará à criança a oportunidade de praticar o planejamento, a programação e a produção adequada dos movimentos da fala.

É importante também que a criança consiga encontrar meios de se expressar. Então busque uma forma alternativa ou complementar de comunicação, como desenhos ou escrita. O treino no lar é fundamental para potencializar os resultados das terapias.

E lembre-se, babão, uma criança com Apraxia de fala sabe mais do que diz, pensa mais do que fala e entende mais do que você imagina.

 

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