10 minutos de leitura

Quando foi a última vez que você tentou criar um novo hábito? Seja a prática de exercício físico, uma dieta ou tocar um instrumento musical, aposto que não foi nada fácil! Se você é como a maioria dos pais, deve ter uma pilha de tarefas no dia a dia: rotinas da casa, atividades com os […]

Quando foi a última vez que você tentou criar um novo hábito?

Seja a prática de exercício físico, uma dieta ou tocar um instrumento musical, aposto que não foi nada fácil!

Se você é como a maioria dos pais, deve ter uma pilha de tarefas no dia a dia: rotinas da casa, atividades com os filhos, trabalho etc. Não é fácil encontrar tempo para iniciar algo novo no meio disso tudo! E, quando encontramos um tempinho, somos tentados com todo o tipo de distrações, seja maratonar uma série no Netflix (ou melhor, escolher algo por 20 minutos até as crianças acordarem) ou aproveitar e ficar de pernas para o ar.

Por mais que tenhamos consciência que é importante se exercitar, que comer bem melhora nossa saúde e que tocar um instrumento seria bacana, isso só cria uma motivação inicial que não dura por muito tempo. E depois vem a frustração.

Se criar um hábito é difícil para nós pais, adultos, com o cérebro maduro, já imaginou como é difícil para uma criança, sem a maturidade emocional e neurológica de um adulto?

No livro “Hábitos Atômicos”, o autor James Clear explica a ciência por trás da criação de hábitos e apresenta ferramentas práticas para criar e manter hábitos, ferramentas que podem ajudar não apenas nossos filhos, mas também nós pais.

 

Nós somos aquilo que fazemos repetidamente. Excelência, então, não é um modo de agir, mas um hábito.

Will Durant

Segue comigo que vou te explicar os 4 fundamentos para ajudar seu filho a criar hábitos que você pode aplicar para ajudar ajudá-lo (e você mesmo) em diversas áreas da vida.

Mas afinal, o que é um hábito?

Usando uma analogia, um hábito é uma “estrada” que nosso cérebro aprendeu a pegar com frequência.

Imagine que cada ação que realizamos no dia a dia cria uma “estrada” em nosso cérebro.

Algumas ações quando repetidas com sucesso (que geram alguma sensação de prazer, satisfação ao final) se tornam hábitos, ou seja: uma estrada tão visitada que o seu cérebro resolveu criar uma via rápida, asfaltá-la e plantar flores no acostamento para que ela fique bem prazerosa de dirigir. 

Logo, sempre que seu cérebro passar pela placa de entrada (estímulo) dessa estrada, ele nem pensa duas vezes (desejo). Já aciona o piloto automático (resposta), entra nela de primeira e aproveita a viagem, só aguardando sua recompensa no final.

Essa dinâmica cria o ciclo do hábito: 

Estímulo (placa) -> Desejo (sentir-se bem ao dirigir) -> Resposta (pegar a estrada) -> Recompensa (hormônios de prazer liberados ao dirigir na sua estrada preferida). 

Ciclo do Hábito

Quanto mais executamos esse hábito, mais forte ele fica, e a soma de nossos hábitos (bons e ruins) vai se tornando a nossa identidade. “Carlos não sai do videogame”,  “Amanda só quer fazer TikTok o dia todo”, “Bernardo vive mordendo os amiguinhos” e por aí vai. 

A boa notícia é que quando entendemos como um hábito funciona, podemos criar estratégias para auxiliar nossos filhos a criarem novos hábitos (leitura, estudos etc) e se livrarem dos indesejados (excesso de videogame, dormir até tarde etc).

As Quatro Leis da Mudança de Comportamento

Essas quatro leis (uma para cada etapa do ciclo do hábito) podem ser utilizadas para tornar um comportamento desejado mais fácil, ou tornar um comportamento indesejado mais difícil

São elas que usaremos para auxiliar nossos filhos na criação de bons hábitos.

1ª Lei – Torne o estímulo claro

O estímulo (ou gatilho) é o primeiro passo para o hábito, ele pode ser qualquer coisa que chame a atenção do seu filho para fazer algo em seguida.

Na analogia com a estrada, são as placas indicando o caminho, trazendo pra vida real: é o videogame instalado em um local bem visível, a notificação barulhenta do celular e por aí vai.

Quanto mais óbvio estiver o estímulo (gatilho) para o comportamento, maior as chances dele ser atendido pelo seu cérebro.

Confira alguns exemplos práticos de como isso pode ajudar seu filho:

  • Se o seu filho quer aprender a tocar violão, vocês podem deixar o instrumento bem à vista (na altura dos olhos) na sala, por exemplo, ao invés de guardá-lo a cada prática;

  • Se o seu filho está com dificuldade para iniciar as tarefas da escola, vocês podem combinar um local, decorá-lo e deixar pronto para os estudos. Caderno aberto, lápis apontado etc, é só sentar e estudar;

  • Se o seu filho passa muito no videogame e vocês desejam reduzir isso, vocês podem combinar de guardar o videogame após o uso (de preferência em um cômodo diferente de onde fica a TV). Aqui, aplicamos o inverso dessa regra: deixamos o gatilho menos evidente.

Outra forma de deixar claro um estímulo é “empilhá-lo” com outro hábito existente, neste formato:

Depois de [hábito que a criança já tem], vou [novo hábito].

Como nos exemplos:

  • Assim que terminar de jantar, vou levar meu prato para a pia;

  • Assim que sair do banho, vou estudar;

  • Assim que trocar de roupa pela manhã, vou arrumar minha cama.

Ajude seu filho lembrando (de forma respeitosa) quando ele esquecer. Lembre-se, você quer ajudá-lo no processo e não ressaltar cada vez que ele esquece determinado comportamento.

Comece bem pequeno!

Um dos maiores erros que cometemos quando iniciamos algo novo é começar grande demais.

Se o seu filho não tem o hábito da leitura e você quer ajudá-lo neste ponto, combinamos já de início que ele leia 5 minutos por dia. Pode parecer pouco, mas para uma criança que tem o tempo de atenção limitado e ainda não tem esse costume, pode ser uma eternidade!

Essa mentalidade cria grandes expectativas, exige muita energia para ser executada dia após dia e, no primeiro deslize, as crianças se distraem com outra coisa (e veja só, o mesmo vale para nós pais!).

Para ajudar seu filho na criação deste ou qualquer outra hábito que seja mais difícil para ele, comece com a menor ação possível! Ainda não foi possível mantê-la? Diminua ainda mais!

Neste exemplo, poderíamos iniciar com a leitura de uma página. Não deu certo? Então reduza para um parágrafo. É importante que a ação seja tão pequena que fique impossível arranjar uma desculpa para não fazê-la.

Com o tempo, seu filho se torna uma criança que lê diariamente e, a partir daí, ela pode decidir ir aumentando o volume de parágrafos, páginas e por aí vai.

 

2ª Lei – Torne a ação atraente

Essa lei atua na etapa do desejo do ciclo do hábito. Para o hábito se formar, é preciso o desejo genuíno de executar determinada tarefa. A criança precisa entender e concordar que determinada ação é importante e pode ser prazerosa. Neste ponto o diálogo é sempre a melhor ferramenta.

Mas também existem outros fatores com os quais podemos ajudar. 

Crianças (principalmente na primeira infância) são fortemente influenciadas pelos pais e cuidadores. Isso acontece inclusive por um recurso do cérebro chamado neurônio espelho (que também explica o porquê você boceja quando outra pessoa boceja perto de você), que alimenta os primeiros aprendizados da criança.

Logo, se você deseja tornar um comportamento atraente para a criança, dê o exemplo e faça você primeiro! Crie você o hábito e deixe-o evidente para a criança. Se quer ajudar a desenvolver o hábito da leitura, leia diariamente na frente do seu filho, comente com ele, interprete e envolva ele na leitura.

Outra forma de ajudar neste sentido é promovendo a autonomia. Continuando no exemplo da leitura, se seu filho não avançou na leitura de Machado de Assis sugerido pela escola, que tal deixar ele escolher o próximo título? Se ele não quer vestir o pijama antes de dormir, que tal tentar aplicar escolhas limitadas: “- Você quer o pijama vermelho ou de dinossauro?”, “- Você quer se vestir agora ou daqui 5 minutos?” e no pior cenário, entenda que ela irá dormir com a roupa do corpo mesmo, tente de outro jeito no dia seguinte (não torne a criação do hábito algo chato para a família).

 

3ª Lei – Torne a ação o mais fácil possível

A terceira lei para criar um hábito ou facilitar um comportamento desejado é torná-lo fácil. Lembra que comentamos de começar pequeno? Além disso, podemos alterar o ambiente para tornar uma ação mais fácil.

  • Para ajudar seu filho a criar o hábito de estudar, por exemplo, podemos garantir que ele tenha um ambiente favorável: com pouco barulho, sem distrações, com boa iluminação e os materiais necessários. 

  • Para ajudar seu filho a escovar os dentes, podemos deixar a escova pronta já com a pasta nos primeiros dias (não se preocupe, isso não é acostumar mal, mas um “empurrãozinho” no início) e escovar os dentes juntos;

Se invertermos a 3ª lei, tornando um ação mais difícil, temos uma tática poderosa para ajudar a eliminar maus hábitos e comportamentos

  • Para melhorar a alimentação você pode retirar as guloseimas da cozinha (tornar o hábito indesejado difícil) e deixar snacks mais saudáveis a vista (tornar o hábito desejado mais fácil).

Com essa estratégia, não tentamos eliminar um mau hábito de uma só vez (o que é ineficiente e muito frustrante, seja para adultos, seja para crianças), mas um passo de cada vez, tentando, errando, aprendendo, tentando de novo (como tudo na vida).

A gente não se liberta de um hábito atirando-o pela janela: é preciso fazê-lo descer a escada, degrau por degrau.

Mark Twain

Outra forma de tornar fácil determinado hábito é oportunizar o contato com outras pessoas e grupos que já possuem esses hábitos. Sabe o ditado “diga com quem tu andas que te direi quem és?”, pois ele parece ser válido quando se trata de hábitos. Incentivar a prática de um esporte coletivo, artes marciais ou grupos como os escoteiros, podem ajudar nossos filhos a ter referências e um apoio social no desenvolvimento de bons hábitos.

 

4ª Lei – Torne a ação satisfatória

As 3 leis anteriores ajudam a iniciar um hábito ou comportamento, a 4ª lei ajuda a queremos repetir a ação.

Para que você ou seu filho deseje repetir determinado hábito, é preciso que o seu cérebro anseie por aquela sensação gostosa de recompensa do final da ação. Assim como gostamos da sensação de refrescância após escovar os dentes.

Aqui, uma forma simples de ajudar seu filho é utilizar um elogio genuíno. Seu filho acordou cedo? “- Que legal filho! Você deve estar orgulhoso de você por conseguir acordar cedo!”, tirou boas notas?  “- Parabéns filho! Só você sabe o quanto estudou pra chegar nesse resultado!”

Tão importante quanto elogiar, é não engrandecer o comportamento negativo, não enaltecer o fracasso. Parece óbvio, mas nós pais temos uma tendência ao sermões e ao sarcasmo perante o erro dos nossos filhos, confere se você reconhece alguma dessas frases:  “- Olha só quem resolveu acordar!”, “- Olha quem vai nos dar a honra de sua presença no almoço!”, não sei vocês, eu ouvi muito essas frases! hehe

Esse tipo de comentário deixa a experiência de criar um novo hábito, insatisfatória. Não critique o comportamento que deseja ver. 

Essas são as 4 leis para ajudar seu filho a criar hábitos (e você também!) e livrar-se de hábitos desagradáveis. Você pode e deve adaptar os exemplos e as técnicas apresentadas no texto para a realidade da sua família. 

O importante é conhecermos estes princípios e atuarmos como um mentor, ajudando, aprendendo e respeitando o processo de nossos filhos.

Quer mais dicas como essa? Então segue o Dojo de Pais no Instagram. Lá eu publico conteúdo para ajudar nós pais a sermos 1% mais conscientes a cada dia.

Seja o primeiro a comentar!

Deixe um comentário

Nossos Parceiros