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Cama compartilhada costuma ser sempre um tema polêmico. Ainda é muito presente a ideia de que colocar o bebê para dormir na mesma cama que os pais pode trazer sérias consequências ao bebê ou ao relacionamento conjugal, mas será que é sempre assim? Muitas pessoas acreditam que dormir na mesma cama que os pais pode deixar […]

Cama compartilhada costuma ser sempre um tema polêmico. Ainda é muito presente a ideia de que colocar o bebê para dormir na mesma cama que os pais pode trazer sérias consequências ao bebê ou ao relacionamento conjugal, mas será que é sempre assim?

Muitas pessoas acreditam que dormir na mesma cama que os pais pode deixar na criança marcas de abuso, porém não há na psicologia nenhuma teoria ou pesquisa que comprove essa crença. Realmente, durante um bom tempo dentro das teorias da psicanálise era contraindicado que os bebês compartilhassem a cama com os pais, mas o motivo era outro: acreditava-se que poderia impactar negativamente no desenvolvimento infantil e na construção da sua personalidade como indivíduo. Com o passar do tempo, novas teorias como a Disciplina Positiva, Criação com Apego e a Psicologia Perinatal foram entrando em cena e trazendo um novo olhar sobre esse processo.

A psicanálise nos traz a ideia de que a criança precisa passar por um processo de separação para que se reconheça enquanto individuo além de sua mãe. De fato, é necessário que a criança passe por esse desligamento psíquico da mãe para que possa desenvolver sua própria personalidade, porém existem várias formas de proporcionar esse processo de uma maneira segura e saudável, sem estar necessariamente ligado ao fato da criança dormir junto aos pais nos primeiros meses de vida.

Essa separação e esse reconhecimento enquanto indivíduo faz parte de um processo que não se dá de um dia para o outro. Vários marcos ao longo da vida vão construindo essa nova identidade através de separações: o parto, a presença paterna, a presença da família ampliada, a volta ao trabalho, o desmame, o desfralde, o início na escola, etc. Com isso, de forma natural essa separação vai acontecendo, desfazendo a relação de simbiose e caminhando na construção da identidade da criança. Desta forma, é importante que a criança tenha o seu próprio espaço físico para que sinta que tem o seu espaço individual dentro do ambiente familiar, ainda que nem sempre durma no seu quarto. Assim, é possível dedicar afeto ao mesmo tempo que respeita a existência única e individual da criança.

Quando ampliamos o olhar para a psicologia perinatal, é preciso avaliar cada família dentro de sua individualidade para que a cama compartilhada possa ser uma decisão consciente e saudável para todos os envolvidos. Por exemplo: se eu recebo uma mãe que amamenta ou até mesmo oferta a mamadeira, provavelmente nos primeiros meses ela terá que se levantar inúmeras vezes ao longo da noite para poder atender às necessidades do bebê. Ainda que o pai auxilie nesse processo, muitas chegam ao limite da exaustão – o que pode impactar de forma negativa na saúde mental dessa mulher – enquanto que, ao fazer cama compartilhada ou deixar o bebê no mesmo quarto que os pais, ela talvez consiga ter uma noite de sono mais tranquila e continuar atendendo ao seu bebê com melhores condições emocionais para isso.

Por outro lado, muitas vezes posso receber um casal com demandas no relacionamento conjugal (as vezes até anteriores ao nascimento do bebê), que estão com dificuldades em lidar com isso e muitas vezes a cama compartilhada acaba sendo uma válvula de escape para não lidar com esses sentimentos. Ter o bebê no quarto pode ser um artificio que acaba sendo prejudicial para o casal e para a criança, que assume uma função que não lhe cabe.

Em algum momento é importante trabalhar o processo da criança dormir sozinha, pois é extremamente saudável que ela tenha a oportunidade de explorar seu próprio espaço, cuidar e zelar por ele, ficar sozinha e sentir-se segura sem a presença constante dos pais, mas “quando” começar esse processo vai depender da realidade de cada família e das questões emocionais que possam estar envolvidas por trás. Sobretudo, é importante lembrar que deixar a criança sozinha no próprio quarto não é deixar de dar amor, mas proporcionar para a criança condições para que se descubra enquanto pessoa para além de seus pais.

Observação: É importante ressaltar que a cama compartilhada não é recomendada pela Sociedade Brasileira de Pediatria, considerando o alto risco de morte súbita infantil ou de sufocamento acidental porém há uma série de novas recomendações e maneiras de realizar a cama compartilhada de forma segura e eficiente. Portanto, se optarem por isso em casa, esteja atento às recomendações, pesquise, informe-se e faça de maneira segura e positiva para o casal e para o bebê.

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