Você já ouviu falar em “autismo virtual”? Esse termo tem se popularizado muito há algum tempo, e diz respeito a crianças que, após uso excessivo de telas teriam desenvolvido sintomas de autismo e recebido o diagnóstico de TEA.
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Os casos de famílias que afirmam ter vivenciado essa experiência com suas crianças cresceram bastante, principalmente durante a pandemia provocada pelo novo coronavírus.
Mas será mesmo que a exposição a telas por muito tempo pode causar autismo? É o que te explicamos neste artigo.
O que é autismo virtual?

O termo autismo virtual surge para abordar uma problemática bastante comum em famílias com crianças pequenas: a exposição ilimitada a telas de TVs, tablets, smartphones e outros dispositivos eletrônicos.
Segundo alguns profissionais da área da saúde, esta exposição excessiva pode fazer com que a criança desenvolva os sintomas característicos do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Por isso o nome, autismo virtual.
Esse fenômeno tem aparecido em vários lugares e chamado a atenção de pais que sentem receio em deixar os pequenos reféns das telas e, mais tarde, desenvolverem autismo.
Quais os sintomas do autismo virtual?
De acordo com alguns profissionais e famílias, os principais sinais apresentados por crianças com o chamado “autismo virtual” seriam:
- Falta de contato visual;
- Isolamento social;
- Pouca ou nenhuma interação com os outros;
- Sinais de atraso no desenvolvimento;
- Entre outros.
De fato, todos esses sinais também podem ser característicos do TEA. Por isso, a associação entre o tempo de exposição a telas e o autismo.
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Afinal, autismo virtual existe mesmo?
A resposta para esta pergunta é simples: não, o autismo virtual não existe e não é um fenômeno real. Apesar desta associação ser feita por muitas famílias, ainda não foi provado que ficar em contato com celulares, tablets e outros dispositivos eletrônicos possa causar autismo.
Até hoje, as causas do autismo ainda não foram totalmente concluídas. Mas o que se sabe é que a criança nasce com o transtorno, não o desenvolve depois.
Além disso, diversos estudos já provaram que a genética tem um papel fundamental no desenvolvimento do TEA, assim como fatores ambientais, como a idade dos pais.
Existem estudos sobre autismo virtual?
Ainda sobre esse assunto, o periódico JAMA Pediatrics publicou um estudo em 2022 cujo título era: Association between screen time exposure in children at 1 year of age and Autism Spectrum Disorder at 3 years age (Associação entre tempo de exposição a telas com 1 ano de idade e Transtorno do Espectro do Autismo aos 3 anos, em tradução para o português).
A pesquisa, conduzida no Japão, chamou atenção de muitas famílias brasileiras quando a Revista Crescer divulgou seus resultados em uma reportagem intitulada “Meninos que passam mais de 2 horas por dia em frente às telas têm mais chance de desenvolver autismo, aponta estudo”.
O alarme provocado pela reportagem foi devido ao fato dela sugerir uma relação de causalidade entre a exposição a telas e o diagnóstico de autismo mais tarde. Mas o estudo japonês fez uma correlação entre as variáveis:
Ou seja, o que os pesquisadores avaliaram, na realidade, foi que algumas das crianças analisadas realmente passavam mais de duas horas por dia em frente às telas com a idade de 1 ano e, aos três anos, elas apresentavam sinais que ajudaram profissionais a traçarem o diagnóstico.
No entanto, isso não prova relação entre os fatores. Isso porque o próprio estudo não descarta a possibilidade de que simplesmente bebês autistas podem se interessar mais por telas do que bebês com desenvolvimento típico.
Revista mudou o título da reportagem
Após a polêmica acerca da reportagem, a própria Revista Crescer modificou o título da matéria para “Estudo analisa associação entre exposição ao tempo de tela em crianças com 1 ano de idade e o Transtorno do Espectro Autista; especialistas comentam”.
Além disso, o subtítulo da reportagem também foi alterado para: “Erramos. O título desta matéria foi modificado porque ele não condiz com o resultado da análise do estudo. A reportagem foi atualizada com a explicação de especialistas”.
Assim, a própria retratação deixa claro que o autismo virtual não existe e, até o momento, não existe relação entre o acesso a telas e o TEA.
Então tudo bem deixar as crianças terem acesso às telas?
Agora você provavelmente está se perguntando se está tudo bem deixar crianças pequenas com um alto tempo de exposição a telas. E normalmente, essa é uma estratégia usada por muitos pais com o objetivo de entreter a criança a mantê-la ocupada.
No entanto, precisamos alertar que essa atitude pode, sim, ser prejudicial para o desenvolvimento infantil. Isso porque, segundo especialistas, quando a criança está vendo um vídeo no celular ou tablet, por exemplo, são ativadas somente as vias de processamento sensorial que são predominantemente passivas.
Assim, perde-se um tempo precioso que poderia ser usado para estimular o bebê com atividades mais ativas, que vão aperfeiçoar habilidades importantes nesta faixa etária, como as de coordenação motora.
Além disso, a própria luz das telas consegue inibir a produção de melatonina, um hormônio essencial para a indução do sono, o que pode causar problemas para a criança dormir.
Assim, o mais recomendado é que durante a infância e adolescência o acesso a dispositivos seja feito de forma limitada e supervisionada. Conheça a Genial Care.
Post postado originalmente no blog da Genial Care.
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