Anita dormiu no sofá, então no caminho da escola percebi algo engraçado: seu rosto estava marcado com aquelas listras do estofado. Quando vamos pra escola caminhando, ela sempre está feliz, fazendo com as mãos dancinhas e coreografias.
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Assim que falei que ela estava marcada no rosto ela me olhou preocupada, jogou todo o cabelo na cara, passou a caminhar corcunda. “Relaxa, não precisa ter vergonha, já vai sair”, eu disse, percebendo pela primeira vez suas inseguranças adolescentes. Ela continuou cabisbaixa. O que eu falei pra ela, então, foi mais o menos o seguinte. Vou abrir um novo parágrafo.
A gente demora décadas pra entender quem a gente é de verdade, e quanto mais relaxado a gente for nesse processo mais fácil fica se encontrar. Não importa o quanto você é bonita ou popular, se não se sentir bonita e popular pra você mesma será infeliz.
Cansei de ver pessoas perfeitamente arrumadas, impecavelmente lindas, e extremamente inseguras. Cansei de ver pessoas esquisitas, de quem todo mundo gosta, porque estão bem resolvidas consigo mesmas. O que ninguém gosta é de gente que tem vergonha de ser o que é: e quando a gente é adolescente a gente quer ser tudo, menos a gente mesmo.
Se alguém te perseguir na escola porque você é diferente, só existe uma solução: ser abusadamente feliz. Não há melhor vingança do que esta. Ser feliz. Vale pra todo tipo de gente: pessoas que levaram um pé na bunda, pessoas que foram demitidas, pessoas que não foram aceitas em um grupo social.
Seja abusadamente feliz. Tenha uma vida brilhante. Não ligue pra opinião dos outros sobre você. Eles vão se contorcer de inveja. Porque você está mais interessada em quem você é pra você mesma e para as pessoas que genuinamente gostam de você.
Timidamente ela voltou a cantarolar uma música, fez mais umas dancinhas e entrou portão adentro saltitando. Me lembrou um menino ruivo, tímido e sardento, inseguro e com medo do que ia encontrar na escola aos onze anos de idade, 25 anos atrás.
Querendo que alguém tivesse dito a ele tudo que eu disse pra minha filha.
Sem saber se faria diferença.
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