3 minutos de leitura

Desde que tomei a decisão de inserir-me no universo da educação infantil, já ao final de 2017, não tenho deixado de refletir sobre a presença dos homens no Magistério e a figura masculina enquanto influência paterna e educadora. Aliás, mesmo que desejasse, seria difícil ou quase impossível não me questionar acerca desses assuntos, isso porque quando se […]

Desde que tomei a decisão de inserir-me no universo da educação infantil, já ao final de 2017, não tenho deixado de refletir sobre a presença dos homens no Magistério e a figura masculina enquanto influência paterna e educadora.

Aliás, mesmo que desejasse, seria difícil ou quase impossível não me questionar acerca desses assuntos, isso porque quando se é um homem tentando integrar-se à carreira pedagógica esses questionamentos costumam chegar até você, mesmo que indiretamente.

Em um país historicamente machista como o Brasil, marcadamente separado pela sexualização e divisão do trabalho, é comum que vejamos posturas e comportamentos que remetem ao machismo, mesmo em ambientes escolares, como as creches e pré-escolas, onde a atuação profissional é majoritariamente feminina.

A simples presença de um professor pode gerar questionamentos em toda a comunidade escolar, tais questionamentos tendem a se intensificar quando a atuação desse profissional volta-se para educação infantil, e a isso devem-se inúmeros fatores aos quais são comumente apontados por homens que decidem atuar em sala de aula.

Seja de maneira confrontada e direta ou por condutas camufladas e até antiprofissionais, comumente professores do sexo masculino compartilham experiências onde relatam não só exclusão em ambiente escolar por aspectos meramente sexuais, como também questionamentos que extrapolam o âmbito profissional. 

Precisam conviver com a necessidade de provar sua capacidade e aptidão de exercer o trabalho para o qual foi contratado. Além disso, questionamentos acerca de sua orientação sexual e real intenção profissional sempre aparecem.

Essa conduta, na qual não ocorre na mesma frequência com mulheres em ambientes escolares, se deve primordialmente a maneira como a figura masculina tem sido estigmatizada com o tempo, em decorrência dos inúmeros casos de abusos sexuais.

Os homens são em grande maioria apontados como praticantes desse tipo de delinquência, por consequência ao machismo estrutural que com o passar dos anos categorizou a mulher como mais apropriada ao cuidado infantil, o que não só generaliza e exclui a figura masculina, mas também restringe as mulheres a atuação pedagógica na formação de crianças.

Esse processo de exclusão dos homens pode começar já na graduação, isso porque 93% dos estudantes de Pedagogia no Brasil são mulheres, o que equivale a 9 em cada 10 estudantes da área. 

Claro que para a  mudança desse cenário, não devemos direcionar somente a universidade brasileira a responsabilidade por incentivar os profissionais masculinos, já que ao meu ver essa intervenção deve ocorrer ainda no ensino infantil.

A naturalização do homem enquanto educador, e sua presença ainda nos anos iniciais da formação infantil, se mostram não só um ato antimachista como instiga pais, alunos, professores e a comunidade em geral, a repensar o lugar do homem na sociedade, desconstruindo estigmas negativos e construindo incentivos dentro da atuação pedagógica.

Dentre as experiencias as quais a educação me deu o privilégio de viver, posso afirmar que perceber o desejo e curiosidade de meninos pela docência, ainda nos anos iniciais da educação infantil, e ser consciente de que tal desejo só foi despertado em virtude da minha presença naquele ambiente, me faz não só repensar diariamente minha conduta enquanto profissional e indivíduo, mas perceber que o professor é sim um agente de transformação social.

Seja o primeiro a comentar!

Deixe um comentário

Conteúdo Relacionado

Nossos Parceiros