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Os primeiros anos de vida de uma criança são muito importantes para seu desenvolvimento futuro. Será nesse período que ela construirá um vínculo com seus cuidadores e começará a desvendar o mundo. Mas qual é a importância da presença do Pai nos cuidados dos bebês? Quais os desafios e benefícios do fortalecimento desse vínculo? Recentemente, […]

Os primeiros anos de vida de uma criança são muito importantes para seu desenvolvimento futuro. Será nesse período que ela construirá um vínculo com seus cuidadores e começará a desvendar o mundo. Mas qual é a importância da presença do Pai nos cuidados dos bebês? Quais os desafios e benefícios do fortalecimento desse vínculo?

Recentemente, comemoramos a aprovação do Marco Legal da Primeira Infância, que entre outras coisas garante aos Pais funcionários de empresas participantes do programa ‘Empresa Cidadã’, licença-paternidade de 20 dias. Apesar disso, a importância da presença do Pai nos primeiros dias, meses e anos de vida da criança, ainda é um tema que muitos desconhecem e território onde ainda há muito por se conquistar e avançar.

Para responder a essas questões, a Rede Nacional Primeira Infância convidou 11 especialistas para falar sobre cuidado paterno sob diferentes óticas. Confira alguns trechos de depoimentos:

Marcos Nascimento, do Instituto Fernandes Figueira, que fala sobre a cultura machista como um dos desafios para a promoção da paternidade: “Eu acho que um dos grandes desafios para a promoção da paternidade é a gente desnaturalizar esse tema do cuidado, observar que cuidado não é inerente à pessoa mas que se aprende a fazer, e educar meninas e meninos para serem cuidadores. Culturalmente a gente vê as mulheres muito mais envolvidas no cuidado, mas isso não quer dizer que os homens sejam incapazes ou incapacitados para cuidar.”

Maria Luiza Carvalho, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que aborda o papel da universidade na promoção da paternidade: “A principal coisa que eu aprendi com a pesquisa sobre homens que cuidam sozinhos dos filhos é que cuidado faz bem para a saúde do homem. Todos esses pais estavam mais felizes depois que eles passaram a cuidar dos seus filhos todos os dias. Se você cria oportunidades para que os homens sejam cuidadores, vamos estar beneficiando a saúde dos Pais, e consequentemente, a saúde dos filhos.”

Paulo Bonilha, então coordenador da área técnica de Saúde da Criança e Aleitamento Materno do Ministério da Saúde, que fala sobre o papel dos gestores públicos na promoção da paternidade: “Uma das formas dos gestores públicos promoverem o exercício da paternidade é sensibilizar os nossos profissionais da saúde para que estejam atentos para questões pequenas que podem facilitar e induzir um Pai a participar, ou não. Se a gente quer que o Pai esteja participando no pré-natal, por exemplo, precisa ter duas cadeiras no consultório.”

Thiago Queiroz, do blog Paizinho Vírgula, que fala sobre o potencial do impacto do cuidado paterno nas relações sociais: “Quando você se dispõe a ser mais sensível no cuidado do seu filho, você percebe como isso se reflete nas suas relações com as outras pessoas. Você percebe que a maneira como você se comunica com o seu filho, não-violenta e tentando entender os sentimentos dele, que essa maneira funciona também com a esposa e com os colegas de trabalho. Essa onda de não-violência e de empatia começa a crescer e a pulsar na sua vida, e isso é muito bacana.”

Marco Aurélio Martins, do Instituto Promundo, que fala sobre a relação entre a promoção da paternidade e segurança pública: “Uma criança que vê dentro de casa um homem que também é cuidador, que divide tarefas domésticas, que é um homem equitativo, a tendência é que ela seja um adulto mais equitativo também. Da mesma forma que se a criança aprende que os seus conflitos são mediados pela violência, ela vai agir de forma violenta. É importante a gente ver que paternidade também tem a ver com segurança pública.”

Heloiza Egas, da Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, que fala sobre cultura machista e a importância de se desnaturalizar o cuidado: “Hoje não é esperado dos homens que eles assumam um papel de cuidado das crianças, e é importante quebrar esse paradigma. Se a criança, por exemplo, fica na creche, e ligam porque a criança se machucou ou está com febre, sempre vão ligar pra Mãe, e acham que é a Mãe quem tem que ir buscar. Não é esperado do Pai que ele largue a sua jornada de trabalho para fazer essa tarefa. Mas é esperado da Mãe, inclusive com vários julgamentos morais.”

Daniel Costa Lima, psicólogo e mestre em saúde pública, que fala da curta licença -paternidade como um dos obstáculos à promoção da paternidade: “Eu acredito que o maior empecilho ao exercício da paternidade e do cuidado pelos homens é a licença paternidade tão curta. É a legislação, que coloca de uma forma muito clara que o cuidado das crianças é algo feminino. É sim um prazer muito grande, mas uma grande responsabilidade e trabalho também, e que poderiam ser compartilhados com os homens.”

Mariana Azevedo, do Instituto Papai, que fala das relações entre o feminismo, a luta pela igualdade de gênero e a promoção da paternidade: “O Movimento Feminista conseguiu muito êxito em fazer com que as mulheres ocupassem o espaço público no mercado de trabalho, na política, na cultura e na educação, mas ainda falta o movimento dos homens se voltar mais para o espaço doméstico, para compartilhar o cuidado das crianças.”

Luciana Phebo, da Plataforma de Centros Urbanos do UNICEF, que fala sobre o impacto positivo da participação do pai na vida dos filhos: “Existe uma relação muito forte entre a participação do Pai na vida das crianças e a redução das desigualdades. A participação do homem na vida das crianças impacta a vida da menina e do menino, da família, e vai mais além, impacta a cidade.”

Fabio Paes, da Aldeias Infantis SOS Brasil e atual presidente do Conanda, que aborda sua experiência como Pai e defensor de direitos humanos: “A experiência de ser Pai na minha vida foi revolucionária. Quem trabalha com direitos humanos e de infância sempre reivindica e defende direitos de outros. E desde o nascimento da minha filha, o discurso dos direitos humanos passou a ter insônias, a acordar de uma maneira muito mais atenta para defender direitos de crianças de zero a três anos é urgente, porque cada dia na vida dessa criança tem um impacto gigantesco.”

Angelita Herrmann, do Ministério da Saúde, que fala sobre a importância de se repensar as práticas de cuidado, tanto no campo pessoal como na formulação das políticas públicas: “A intensidade de ouvir um homem dizendo ‘Eu quero ter o direito de participar’ nos faz revisitar experiências pessoais. Eu fico pensando em quantos momentos, como Mãe, não deixei o Pai participar do cuidado das crianças, e o quanto foi importante o movimento do Pai dizer ‘Sim, eu quero participar’.”

Rede Nacional Primeira Infância

A RNPI é uma articulação nacional de mais de 160 organizações da sociedade civil, do governo, do setor privado, de outras redes e de organizações multilaterais que atuam, direta ou indiretamente, pela promoção e garantia dos direitos das crianças até seis anos.

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