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Já parou pra pensar quanto estresse poderíamos evitar com nossos filhos se nos comunicarmos de forma clara e sem violência? Quando digo “clara”, me refiro a expressar o que queremos e sentimos sem ser omisso, nem agressivo, respeitando o nível de compreensão da criança. Quando digo, “sem violência”, me refiro sim a violência física ou […]

Já parou pra pensar quanto estresse poderíamos evitar com nossos filhos se nos comunicarmos de forma clara e sem violência?

Quando digo “clara”, me refiro a expressar o que queremos e sentimos sem ser omisso, nem agressivo, respeitando o nível de compreensão da criança.

Quando digo, “sem violência”, me refiro sim a violência física ou verbal, mas também à violências mais silenciosas como um tom de voz diferente, uma ironia, um rótulo ou outras manifestações.

Pense aí no último conflito com seu filho… pensou? É muito provável que este conflito passe, em algum momento, por um problema de comunicação.

A Comunicação Não Violenta (CNV) nos diz que quando somos violentos ou omissos em nossa comunicação, estamos manifestando de forma desastrada uma necessidade que não está sendo atendida. Este é um dos pilares do método.

Além de explicar a raiz de muitos dos nossos conflitos, a CNV traz 4 passos para melhorar a comunicação com seus filhos. Segue comigo que neste artigo vamos passar pelo passo a passo com uma série de exemplos práticos pra você aplicar a CNV no seu dia a dia.

O que é a Comunicação Não Violenta (CNV)?

A CNV é um método de comunicação para a resolução de conflitos. Uma ferramenta que nos ajuda a entender nossos sentimentos e necessidades, as necessidades do outro (como nossos filhos) e chegar a uma resolução pacífica para os conflitos. 

Para te ajudar no entendimento, sugiro dedicar 4 minutos para o vídeo abaixo:

A CNV é Utilizada desde escolas à programas de paz em regiões assoladas por guerras então, faz todo sentido funcionar também na nossa casa, não é mesmo?

Como a CNV pode ajudar na relação com o meu filho?

Durante a pandemia minha esposa e eu criamos um curso online para ajudar pais em isolamento a aplicarem uma educação não violenta, sendo firme e gentil, com foco na autonomia da criança.

Após concluir o curso nós realizamos uma pesquisa (mais de 100 famílias participaram) e descobrimos que a maior dificuldade encontrada em aplicar as ferramentas fornecidas no curso, era lidar com a raiva em situações de estresse com as crianças.

Afinal, ninguém dá uma palmada com horário agendado, aquela “palmada pedagógica”. A palmada surge na raiva e na ânsia por controle, por ver alguém punido pelo seu erro.

E para ajudar a controlar essa raiva, sentimentos e necessidades na relação com os filhos, temos na CNV é uma ferramenta poderosíssima pois irá nos ajudar a entender o que existe por trás dessa raiva.

Outro pilar do método CNV é entender que apenas você é responsável pelos seus sentimentos. Ninguém tem o poder de colocar a raiva dentro de você, o seu filho não tem esse poder, nem mesmo nos momentos mais estressantes.

O que acontece é que seu filho faz algo que conflita com algum gatilho interno seu, que conflita com alguma necessidade não atendida sua, e aí a raiva aparece. Ele só vem com o fósforo, a gasolina está dentro de você.

Assim, a CNV nos diz que a raiva deixa mais evidente nossas necessidades não atendidas, já que é um sentimento tão intenso que nos dá pistas até mesmo físicas (aumento do tom de voz, batimentos cardíacos etc).

Mas será que me comunico de forma violenta com meu filho?

Confira se você já se pegou dizendo algo parecido:

  • Pô filho, você não fez os deveres de novo! Sempre a mesma coisa! Deixa de ser preguiçoso!

  • Poxa  filha você nunca sai do seu quarto quando chegam as visitas! Você é um bicho do mato

  • Filho, já falei mil vezes para você dividir o brinquedo! Deixa de ser egoísta!

Todas essas frases escondem (ou no mínimo aumentam) os fatos, julgam e rotulam nossos filhos. 

4 Passos da CNV

Bom, já falamos de dois pilares importantes da CNV:

  • Toda violência nasce de uma necessidade não atendida;

  • Somos responsáveis pelos nossos sentimentos.

Entendendo esses pilares, a CNV irá nos ajudar a:

  • Me expressar com clareza como eu estou, sem crítica ou censura;

  • Receber com empatia a mensagem do outro, sem interpretar como crítica ou censura (não levar para o lado pessoal).

Mas como a CNV nos ajuda na prática a entender nossos sentimentos, nossas necessidades e a resolver conflitos com nossos filhos?

Temos 4 passos para chegar nisso:

1. Observação

Observação é escutar (ou falar) sem julgamentos, sem suposições ou conclusões de nossa parte. Sim, esse passo já é bem difícil e exige muito treinamento!

A CNV nos diz para considerar apenas os fatos daquilo que ouvimos ou dizemos. 

Vamos pegar as frases que citamos anteriormente para entender melhor?

  • “Pô filho, você não fez os deveres de novo! Sempre a mesma coisa! Você é um preguiçoso!”. 

Neste exemplo, para nos comunicarmos de forma não violenta, precisamos entender de fato quando os deveres deixaram de serem feitos. Por exemplo: 

  • “- Filho, nos últimos 3 dias observei que você não fez os deveres…”. 

Além disso, retiramos aqui o adjetivo “preguiçoso” que é um julgamento nosso e um rótulo que pode prejudicar nosso filho, principalmente se ele passar a acreditar nesse rótulo.

Mantenha seus ouvidos bem abertos, quando ouvir uma generalização, um rótulo ou aquela “exagerada” que damos nos fatos, você está usando uma comunicação violenta.

Agora perceba a diferença: a frase original tem uma carga emocional muito grande, esquecemos do nosso objetivo (ajudar nosso filho a estudar) e comunicamos uma série de queixas acumuladas quando usamos expressões como “de novo”, “sempre a mesma coisa” e “preguiçoso”. A criança provavelmente ficaria na defensiva e se fecharia para o diálogo.

2. Sentimentos

Aqui, entendemos o que sentimos em relação ao que acabamos de observar. O exemplo anterior poderia ficar assim: 

  • ”Filho, nos últimos 3 dias observei que você não fez os deveres, o pai fica preocupado…”

Entender como você ou seu filho se sentem sobre uma observação é um exercício que fortalece o músculo da empatia.

Um dos desafios dessa etapa é aumentar nosso repertório de emoções. Quantas emoções você consegue citar de cabeça? Esse é um assunto que abordamos pouco na educação tradicional e, muitas vezes, nosso repertório emocional cabe nos dedos: alegre, mal-humorado, bravo… Mas o leque de sentimentos é grande, a CNV lista vários como você pode ver na imagem abaixo:

E vale reforçar: não é seu filho que o deixou preocupado, mas é você quem fica preocupado por conta de uma necessidade sua. Vamos entender melhor essa necessidade no próximo passo.

3. Necessidades

Neste passo, expressamos qual a nossa necessidade por trás da observação que fizemos. É essa necessidade que gerou o sentimento que acabamos de expressar. Como no exemplo:

  •  Filho, nos últimos 3 dias observei que você não fez os deveres, o pai fica preocupado porque é muito importante para mim que você valorize os estudos.

Assim como comentamos do repertório de sentimentos, também conhecemos pouco as nossas necessidades, vou deixar uma lista que a CNV criou para nos ajudar nessa parte.

 

Para a CNV, sentimentos e necessidades são universais, o que é muito particular de cada um são as estratégias adotadas para manifestar sentimentos e necessidades.

4. Pedido

O último passo da CNV é pedir aquilo que enriqueceria nossas vidas, ou seja, o que atenderia nossas necessidades, sem exigências para o outro. 

Importante lembrar que pedir é diferente de exigir. Quando pedimos algo, essa coisa pode ou não ser atendida, quando exigimos algo fica implícito uma punição caso não sejamos atendidos. 

Vejamos então como ficaria nosso exemplo:

  • “Nos últimos 3 dias observei que você não fez os deveres, me sinto preocupado porque é muito importante para nós que você valorize os estudos. Você estaria disposto a combinarmos um horário para eu te ajudar com os deveres amanhã?

E aí, qual frase você acredita que irá trazer melhores resultados para os estudos dos seus filhos e para a relação de vocês?

Você agora deve estar se perguntando aí se a conversa não vai ficar robotizada, um papo estranho. E sim, provavelmente no início será estranho mesmo. Como qualquer habilidade que estamos aprendendo (e se comunicar de forma não violenta é sim uma habilidade de vida!) no início a execução é estranha, precisamos ir treinando e aperfeiçoando.

E se o meu filho não tem maturidade para compreender uma diálogo assim?

Bom, é só pensar o seguinte: se a criança não tem maturidade para entender a CNV, ela também não tem maturidade para entender uma palmada, castigo ou qualquer tipo de comunicação violenta.

Nesses casos, vale nós como pais treinarmos a CNV para gerir melhor nossos sentimentos e buscar alternativas (como a Disciplina Positiva) para lidar com o comportamento da criança.

 


Para complementar este assunto eu gostaria de indicar um episódio do meu podcast Dojo de Pais, no episódio “Pode sentir raiva do filho?” eu compartilho uma experiência bem pessoal minha onde eu utilizo a CNV em mim após uma situação de muita raiva que passei com meu filho.

Espero que este artigo ajude a tornar seu tempo em família ainda mais gostoso.

Compartilha aqui embaixo sua experiência ou dúvida com a CNV 😉

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